"Talvez não amemos a vida o bastante. Já reparou que só a morte desperta nossos sentimentos? Como amamos os amigos que acabam de deixar-nos, não acha?! Como admiramos nossos mestres que já não falam mais, que estão com a boca cheia de terra...! A homenagem vem, então, muito naturalmente, essa mesma homenagem que talvez tivessem esperado de nós a vida inteira. Mas sabe por que somos sempre mais justos e mais generosos para com os mortos? A razão é simples. Em relação a eles, já não há obrigações. Deixam-nos livres, podemos dispor de nosso tempo, encaixar a homenagem entre o coquetel e uma doce amante: em resumo, nas horas vagas. Se nos impusessem algo, seria a memória, e nós temos a memória curta. Não, não é o morto recente que nós amamos em nossos amigos, o morto doloroso, nossa emoção, enfim, nós mesmos".
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"Fazia a guerra por meios pacíficos e obtinha, enfim, pelo desinteresse, tudo que cobiçava. Por exemplo, nunca me lamentava de terem esquecido a data de meu aniversário; as pessoas chegavam a se surpreender, com uma ligeira dose de admiração, de minha discrição no caso. Mas a razão de meu desinteresse era ainda mais discreta: eu desejava ser esquecido para poder lamentar-me disso a mim mesmo. Vários dias antes da data, entre todas gloriosa, que eu conhecia bem, ficava à espreita, atento para nada deixar escapar que pudesse despertar a atenção e a memória daqueles cuja falha eu contava (não tive um dia a intenção de alterar um calendário?). Uma vez bem demonstrada minha solidão, podia então entregar-me aos encantos de uma tristeza viril".
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"A libertinagem nada tem de frenético, ao contrário do que se pensa. É apenas um longo sono".
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"O ato de amor, por exemplo, é uma confissão. Aí o egoísmo grita, ostensivamente, aí a vaidade se exibe ou, então, aí se revela a verdadeira generosidade".
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"Para deixar de ser duvidoso, é preciso, pura e simplesmente, deixar de ser".
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"Sim, caro amigo, o casamento burguês colocou nosso país de chinelos e em breve vai leva-lo às portas da morte".
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"Cada homem é testemunha do crime de todos os outros, eis minha fé e minha esperança".
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"Que importa, afinal? As mentiras não conduzem finalmente ao caminho da verdade? E minhas histórias, verdadeiras ou falsas, não tendem todas ao mesmo fim, não têm o mesmo sentido? Que importa, então, que sejam verdadeiras ou falsas, se, em ...ambos os casos, são representativas do que fui e do que sou? Pode-se, às vezes, ver com mais clareza em quem mente do que em quem fala a verdade. A verdade, como a luz, cega. A mentira, ao contrário, é um belo crepúsculo, que valoriza cada objeto".
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