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sábado, 7 de janeiro de 2012

Histórias de Arthur Bispo do Rosário

"Até o Natal de 1938, quando Bispo extrapolou o senso comum, suas epifanias passavam despercebidas. Ele levava uma vida prosaica e só se excedia nas manifestações de humildade. Um dia, ao ver o Dr. Humberto na sala, cigarro aceso, sem cinzeiro por perto, juntou as duas mãos grossas em forma de concha e não hesitou:
- Pode jogar as cinzas.
- Não Bispo, pega o cinzeiro ali para mim, por favor - retrucou Humberto, desconcertado.
- Pode jogar, minha mão é o seu cinzeiro - insistiu Bispo, de vigília, até o fim do cigarro" (p.49).

"[Bispo] defendia a família [que o abrigava] com zelo de patriarca. Sentava ao pé da cama de Belinha, olho esbugalhado, sem fresta ao cansaço. Ali permanecia até alta madrugada, se necessário, corpo em vigília.
Belinha estava grávida, ele a protegia. Quando ela deu à luz a menina Margareth, certa noite uma passagem causou espanto. A mãe entrou no quarto do bebê e encontrou Bispo ao lado do berço, assustado, às voltas com assombrações.
- O que  foi, Bispo?
- Acabei de ver o seu pai aqui, ele veio ver a neta.
Belinha sorriu, afinal, seu pai estava morto. De qualquer forma, perguntou pelo fantasma. Bispo descreveu-o em detalhes, feições, medidas, sem nunca tê-lo visto, sequer em fotografia. Ao final, elogiou o terno azul-marinho que ele vestia.
A mulher de Humberto arrepiou-se. Seu pai havia sido enterrado com esta roupa e, em vida, era o seu traje predileto. Na dúvida, Belinha remexeu o armário do quarto à procura de fotos antigas, já que não tinha o hábito de expor recordações em porta-retratos (...). Ao encontrar um antigo retrato do pai, cercado por colegas da juventude, perguntou:
- Qual deles esteve aqui?
- Este - respondeu Bispo, certeiro.
Sem hesitar, pôs o dedo no rosto do pai de Belinha, o da imagem " (p.55).

(In: Arthur Bispo do Rosário - O senhor do labirinto. Luciana Hidalgo. Rio de Janeiro: Rocco, 2011 [1996]).

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O prisioneiro da passagem - Hugo Denizart (1982)


Realização: Hugo Denizart
Direção: Maria Alves de Lima
Produção: CNPI (Centro Nacional de Produção Independente)
Edição e montagem: Ricardo Miranda
Fotografia e câmera: John Howard Szerman
 *
Documentário curta sobre o sergipano ex marinheiro, pugilista, acidentado de trabalho pela Viação Excelsior (subsidiária da Light) e empregado doméstico, Arthur Bispo do Rosario, interno número 01662 daquele que chegou a ser o maior manicômio das Américas durante os anos 1960, a Colônia Juliano Moreira, no bairro de Jacarepaguá, Rio de Janeiro, sob o diagnóstico único de esquizofrênico paranóico, desde os seus presumíveis 29 anos de idade, em 25 de janeiro de 1939 (cinco anos depois do interno fugitivo Ernesto Nazareth ser encontrado morto por afogamento), até o seu infarto do miocárdio às dezenove horas do dia 5 de julho de 1989.
O legado de Bispo de mais de 1000 peças, entre bordados, estandartes, “assemblages”, roupas, esculturas, arquivos e anotações, começou a ser conhecido fora do manicômio a partir de uma reportagem do jornalista Samuel Wainer Filho para o programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, em 18 de maio de 1980, cuja pauta inicial era denunciar os maus tratos sofridos pelos internos psiquiátricos. Dois anos depois, foi convencido a permitir que algumas de suas peças saíssem do manicômio para integrarem a exposição coletiva “À margem da vida”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, junto com trabalhos praxiterapêuticos de presidiários, menores infratores, idosos e alguns outros pacientes psiquiátricos.
***
Hugo Denizart “nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1946, e singularizou-se por unir a fotografia à sua experiência como psicanalista e psiquiatra, muito embora tenha tido um começo de carreira ortodoxo no campo da imagem por atuar como repórter fotográfico do Jornal do Brasil entre 1971 e 1973. Seu primeiro ensaio pessoal focalizou os moradores de rua do Ceará, em 1971. Concentrou-se depois na cidade do Rio de Janeiro, onde realizou significativos e distintivos ensaios sobre temas polêmicos e candentes como a Cidade de Deus (1978); os internos da colônia psiquiátrica Juliano Moreira (1980); as prostitutas de Vila Mimosa (1988); e os travestis da praça Tiradentes (1997). Publicou os livros de fotografia: Região dos Desejos (1983); Inventando Corpos (1987); Como Eles Dizem… (1991); e Engenharia Erótica (1998); assim como um livro de poesia e textos curtos intitulado Conto do Vigário (2003).” (Pedro Vasquez, “Memória das Artes”, Funarte: funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/infoto/biografia-de-hugo-denizart/ )
“Dirigiu os filmes documentários Líderes de quadrilha (1980); Prisioneiro da passagem (1982), sobre o artista Arthur Bispo do Rosário, interno da Colônia Juliano Moreira; e Região dos desejos (1983), sobre as internas da Colônia Juliano Moreira. Recebeu o prêmio de melhor exposição de fotografia da Associação Paulista de Críticos de Arte (1984).” (Coleção Pirelli/MASP de Fotografia: colecaopirellimasp.art.br/autores/115/obra/415 )

 Documentário disponível no link:

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Bispo - Arthur Bispo do Rosário por Fernando Gabeira



Documentário em torno de Artur Bispo do Rosário, artista plástico, interno na Colônia Juliano Moreira. O vídeo registra a visão de mundo de Bispo e os seu trabalho - tapeçarias, bordados, colagens, instalações e pinturas - realizado ao longo de 7 anos, período em que se manteve recluso em seu quarto na Colônia. Parte da série "video-cartas", realizadas por Fernando Gabeira na década de 1980.