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segunda-feira, 19 de julho de 2021
Natalia Ginzburg & a Psicanálise
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Autobiografia - Woody Allen
Eu fui o sol das cinco irmãs de minha irmã, o único varão, o queridinho dessas doces fofoqueiras que babavam sobre mim. Nunca fiquei sem uma refeição, nem careci de roupas ou abrigo, nunca fui acometido por nenhuma doença séria, como a pólio, que assolava a cidade. Eu não tinha síndrome de Down como um moleque da minha sala, nem era corcunda como o pequeno Jenny ou sofria de alopecia como o Schartz. Eu era saudável, popular, bem atlético, sempre o primeiro a ser escolhido nas esquipes esportivos. Jogava bola, corria e, ainda assim, acabei me tornando nervoso, medroso, um caco emocional, mantendo a compostura por um fio, um misantropo, claustrofóbico, isolado, amargurado, um pessimista impecável. Algumas pessoas veem o copo meio vazio; outras veem meio cheio. Eu sempre vi o caixão meio cheio. Das milhares de reações naturais do corpo, eu consegui evitar quase todas, exceto a número 682: o mecanismo de negação. Minha mãe falava que não conseguia entender. Dizia que eu era um garotinho doce e animado até uns cinco anos, quando mudei para um moleque feio, azedo, chato e de ovo virado.
Mas não há trauma na minha vida, nada de terrível que tenha ocorrido e me transformado de um garotinho sardento sorridente vestindo calções e sempre com uma vara de pesca em uma das mãos num lorpa cronicamente insatisfeito. Especulo que, por volta dos cinco anos, eu tenha tomado consciência da moralidade e percebido que, afe, u não pedi isso. Nunca concordei em ser finito. Se você não se importar, quero meu dinheiro de volta. Conforme fiquei mais velho, não apenas a extinção, mas também a falta de sentido da existência se tornaram mais claras para mim. Eu me deparei com a mesma pergunta que incomodava o antigo príncipe da Dinamarca: por que sofrer com os tiros e flechadas quando posso apenas molhar meu nariz, enfiá-lo numa tomada e nunca mais ter que lidar com a ansiedade, o sofrimento ou o frango cozido da minha mãe? Hamlet escolheu não fazer isso porque temia o que poderia acontecer no além. E então, dada minha profunda falta de apreço pela condição humana e seu doloroso absurdo, por que seguir com isso? No fim, eu não pude achar uma razão lógica e finalmente cheguei à conclusão de que, como humanos, simplesmente somos programados para resistir à morte. O sangue vence o cérebro. Não há razão lógica par se prender à vida, mas quem se importa com o que a cabeça diz quando o coração te pergunta: "Viu a Lola naquela minissaia?". Por mais que eu resmungue, reclame e insista firmemente que a vida é um pesadelo sem sentido de sofrimento e lágrimas, se um homem entrasse na sala com uma faca para nos matar, nós insistentemente reagiríamos. Nós o agarraríamos e lutaríamos com cada grama de nossa energia para desarmá-lo e sobreviver. (Pessoalmente, eu correria). Isso, eu insisto, é uma propriedade estrita de nossas moléculas. Agora, você já deve ter percebido que não apenas não sou um intelectual, como também não sou uma companhia divertida nas festas" (pp.15-16).
(In. Autobiografia. Rio de Janeiro: Globo Livros: 2020).
terça-feira, 28 de julho de 2020
José & Pilar - conversas inéditas (trechos)
sexta-feira, 24 de agosto de 2018
Mamãe & eu & Mamãe - Maya Angelou (trechos)
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
A formatura - Maya Angelou (trecho)
segunda-feira, 13 de agosto de 2018
Sei porque canta o pássaro na gaiola - Maya Angelou (trecho)
domingo, 16 de abril de 2017
Bukowski - Morte & vida de um velho safado
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Nise da Silveira - Do mundo da Caralâmpia à emoção de lidar
Entrevista com a Dra. Nise da Silveira, realizada em 03 e 04 de agosto 1992 por Gonzaga Leal e Rubem Rocha Filho. Nesta entrevista, Nise fala das suas inquietações, das suas filiações teóricas e de sua experiência na relação com a loucura, com o desassossego, com a dor humana e com a instituição psiquiátrica. Se remete a Antonin Artaud e Jung como mestres decisivos na formulação do seu campo conceitual teórico-prático no manejo da clínica da psicose. Interroga a psiquiatria clássica ao mesmo tempo em que aponta a sua aliança com a anti-psiquiatria e com artistas pertencentes as mais diversas linguagens. Atrevida que era, utilizou o animal como co-terapeutas, desafiando o status quo da tradição psiquiátrica, o que veio fortalecer um dos seus conceitos de maior força e potência por ela desenvolvidos, O AFETO CATALIZADOR. Durante todo o percurso da entrevista Nise deixa claro o seu sonho desde pequena -- apaziguar o sofrimento humano. Conciliando ternura, firmeza de convicções, sensibilidade e rigor teórico, Nise esteve a frente do seu tempo, sendo responsável pela idealização e criação de dois espaços de clínica e de pesquisa de maior referência mundial, o MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTE, e a CASA DAS PALMEIRAS, instituição para pacientes egressos de clínicas psiquiátricas antecipando-se em mais de 30 anos ao que hoje modernamente chama-se CAPS -- CENTROS DE ATENÇÃO PSICO-SOCIAL.
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Guimarães Rosa para Aracy
[6/11/1946].
domingo, 16 de junho de 2013
Tímida pessoinha - Graciliano Ramos escreve sobre Nise da Silveira
terça-feira, 28 de maio de 2013
Uma mente brilhante - John Nash
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Carta de Karl Marx para Jenny
Escrevo-te, porque estou só e me perturba sempre dialogar contigo na minha cabeça sem que o saibas e me possas responder.
Por má que seja a tua fotografia, presta-me esse serviço e compreendo agora como as efígies da mãe de Deus mais odiosas, as virgens negras, podem encontrar admiradores incansáveis. Nenhuma dessas imagens foi jamais tão beijada, olhada e venerada que a tua foto, que não reflecte de modo algum a tua querida, terna e adorável dolce figura. Mas os meus olhos, por ofuscados que estejam pela luz e tabaco, ainda a podem reproduzir não só em sonhos, mas também acordados.
O meu amor por ti, assim que te afastas apresenta-se-me pelo que é: um gigante que absorve toda a energia do meu espírito, toda a substância do meu coração. Sinto-me de novo um homem, porque tenho uma grande paixão..."-