"John Forbes Nash Jr. - gênio matemático, inventor da teoria do comportamento racional, visionário da máquina pensante - estivera sentado com seu visitante, também um matemático, durante quse meia hora. Era a tardinha de um dia de trabalho da primavera de 1959, e, embora ainda fosse maio, fazia um calor desconfortável. Nash estava afundado numa poltrona num dos cantos do saguão do hospital, vestindo displicentemente uma camisa de náilon para fora das calças sem cinto. Sua compleição robusta estava frouxa como uma boneca de trapo; as feições finamente esculpidas, sem expressão. Estivera fitando com olhar opaco um ponto logo à frente do pé esquerdo do professor de Harvard George Mackey, praticamente imóvel, exceto para afastar da testa os cabelos pretos e compridos, num movimento intermitente, repetitivo. Seu visitante sentava-se ereto, oprimido pelo silêncio, bem consciente de que as portas da sala estavam trancadas. Por fim, Mackey não conseguiu mais se conter. Sua voz saiu ligeiramente impertinente, mas ele esforçou-se para ser gentil. "Como é que você pode", começou Mackey, "como é que você pode, um matemático, um homem dedicado à razão e à prova lógica...como é que você pode acreditar que extraterrrestres estão lhe enviando mensagens? Como é que que você pode acreditar que está sendo recutado por alienígenas do espaço exterior para salvar o mundo? Como é que você pode...?".
Nash, por fim, levantou os olhos e fitou Mackey sem piscar, com um olhar tão frio e desprovido de emoção como o de um pássaro ou de uma cobra. "Porque", disse Nash vagarosamente, com seu sotaque sulista arrastado, suave e moderado, como se estivesse falando para si próprio, "as idéias que eu tinha sobre seres sobrenaturais vinham a mim da mesma forma que as minhas idéias matemáticas. De modo que eu as considerei seriamente".
(In. Uma mente brilhante - Sylvia Nasar . Rio de Janeiro: Bestbolso, 2013, p.7-8).
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