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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Balanço final - Simone de Beauvoir

Cada manhã, antes mesmo de abrir os olhos, reconheço minha cama, meu quarto. Mas se durmo à tarde, em meu estúdio, experimento às vezes, ao acordar, um espanto pueril: por que sou eu? O que me surpreende - como à criança quando toma consciência de sua própria identidade - é o fato de encontrar-me aqui, agora, dentro desta vida e não de outra: por que acaso? Se a considero do exterior, em primeiro lugar parece inacreditável que eu tenha nascido. A penetração de um determinado óvulo por um determinado espermtozóide, implicando o encontro e o nascimento de meus pais e de todos os seus ancestrais, não tinha uma chance entre milhares de ocorrer. Foi um acaso, conforme o estado atual da ciência, totalmente imprevisível, que me fez nascer mulher. Depois, para cada instante de meu passado mil futuros diferentes me parecem concebíveis: adoecer e interromper meus estudos; não conhecer Sartre; qualquer outra coisa.
Jogada no mundo, fui submetida a suas leis e a seus acidentes, dependendo de vontades alheias, de circunstâncias, da história: estou, portanto, justificada por sentir minha contingência; o que me atordoa é que ao mesmo tempo não o estou. O problema não existiria se eu não tivesse nascido: tenho que partir do fato que existo. E, certamente, o futuro daquela que fui podia fazer-me diferente do que sou. Mas então seria essa outra quem se interrogaria sobre si mesma. Para aquela que diz: eis-me, não há conciliação possível. No entanto, essa necessária coincidência do sujeito com sua história não é suficiente para dissipar minha perplexidade. Minha vida: familiar e distante, ela me define e eu sou exterior a ela. O que é exatamente esse objeto bizarro?
(In: Balanço final. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1972, p. 9)



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O livro dos prazeres - Clarice Lispector (II)

"Por mais intransmissível que fossem os humanos, eles sempre tentavam se comunicar através de gestos, de gaguejos, de palavras malditas e mal ditas" 

(Clarice Lispector. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 36).

domingo, 2 de dezembro de 2012

O livro dos prazeres - Clarice Lispector (I)

 
"Mas o seu descompasso com o mundo chegava a ser cômico de tão grande: não conseguira acertar o passo com as coisas ao seu redor. Ja tentara se pôr a par do mundo e tornara-se apenas engraçado: uma das pernas sempre curta demais. (O paradoxo é que deveria aceitar de bom grado essa condição de manca, porque também isto fazia parte de sua condição.) (Só quando queria andar certo com o mundo é que se estraçalhava e se espantava.) E de repente sorriu para si própria com um sorriso amargo, mas que não era mau porque também ele era sua condição" -
 
 (Clarice Lispector. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p.20).


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Hypátia de Alexandria

"Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Téon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos da época. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe receber os ensinamentos. Com um grande auto-controle e descontração, que obteve como consequência do cultivo da sua mente, não raras vezes aparecia em público, na presença dos magistrados. Nem se coibia de comparecer numa assembléia de homens. Pois todos os homens a admiravam ainda mais devido à sua extraordinária dignidade e virtude. Mas até ela foi vítima da inveja política que ao tempo prevalecia. Ao manter diálogos frequentes com Orestes, foi caluniosamente relatado entre a população cristã que era ela que impedia Orestes de se reconciliar com o bispo. Por causa do zelo fanático de alguns deles, liderados por Pedro, o leitor, Hipátia foi arrancada da sua carruagem, quando voltava para casa, e foi arrastada até a igreja chamada Caesareum, onde lhe rasgaram as roupas e a mataram com ostras e pedaços de cerâmica. Depois de terem desmembrado o seu corpo, levaram os membros mutilados para um local chamado Cinaron e os queimaram. Este assunto trouxe não pequeno opróbrio quer a Cirilo, quer a toda a Igreja Alexandrina. E certamente que nada poderá estar mais distante do espírito do Cristianismo que a permissão de massacres, lutas e acontecimentos de tal ordem. Isto aconteceu no mês de Março, durante a Quaresma, durante o quarto ano do episcopado de Cirilo, sob o décimo consulado de Honório e o sexto de Teodósio."
 
 
Mais sobre Hypátia em:
*
"Cinésio, você não questiona a sua crença, você não pode. Eu devo" -
(Trecho do filme Ágora - no Brasil Alexandria - que retrata a vida de Hypátia).
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Trailer do filme:

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Eterna mágoa - Augusto dos Anjos

 "O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do Mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!
Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.
Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!".
 
Mais sobre Augusto dos Anjos em:


domingo, 18 de novembro de 2012

As idades do amor - (trechos)

 
"A vida não é aquela que se vive, mas aquela que ainda vai se viver, mesmo que você pense já ter vivido tudo".
 
 
 
 
"Se a vida fosse fácil, ela não teria a menor graça".
 
 


domingo, 11 de novembro de 2012

Joueuse (Xeque - mate) - trecho

 
"Quando assumimos os riscos, podemos perder. Quando não assumimos, perdemos sempre" .
 
 
Filme completo no youtube:
 


Os múltiplos usos de Lacan

Obras recém-lançadas refletem influência de teorias do pensador francês nas ciências humanas, da filosofia ao Direito e à literatura


O que pode haver em comum entre o filósofo francês Alain Badiou, a feminista norte-americana Judith Butler, o pensador pop Slavoj Žižek, e a jurista Drucila Cornell? O interesse pelo pensamento do psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), cada vez mais lido não apenas como um psicanalista que, a partir da Conferência de Roma, em 1950, se dedicou a revigorar o pensamento de Freud, mas também como um teórico social capaz de antecipar algumas das questões do século XXI. O crescente interesse por Lacan para além das escolas de psicanálise se dá, principalmente, nos departamentos de Filosofia e pode ser percebido no lançamento de três livros: “Estilo e verdade em Jacques Lacan” (Autêntica), do professor da Universidade Federal de Ouro Preto, Gilson Iannini; “Grande Hotel Abismo” (Martins Fontes), do professor da USP, Vladimir Safaltle e “Lacan passado presente” (Difel), de Alain Badiou e Élisabeth Roudinesco, relatos pessoais da convivência com o pensador francês.
 
Filosofia e clínica
Iannini e Safatle integram, com professores brasileiros como Claudio Oliveira (UFF) e Antonio Teixeira (UFMG), a Sociedade Internacional de Psicanálise e Filosofia, associação de filósofos e psicanalistas interessados em discutir as repercussões filosóficas da psicanálise e seus pressupostos filosóficos. Reúne pesquisadores ligados a universidades na Europa, nos EUA, em Israel e no Japão, e promove encontros internacionais a cada dois anos. O próximo acontece em novembro, no Chile, e é um dos indicadores do crescente interesse pelos estudos de Lacan na filosofia, voltados para refletir sobre as duas máximas que marcariam a obra do psicanalista.
“Há verdade” e “não há verdade da verdade” são os dois axiomas sobre os quais Iannini se debruçou para escrever “Estilo e verdade em Jacques Lacan”. Para ele, entender Lacan é entender essa dupla exigência, desse limite tênue.
— Caso contrário, a tentação de representá-lo como um mestre da verdade, uma espécie de
profeta capaz de “antecipar” o que está acontecendo agora ou, por outro lado, como um impostor pós-moderno é muito grande. Mesmo entre seus seguidores — argumenta Iannini, cujo livro aponta uma leitura de Lacan dentro desta articulação entre psicanálise e filosofia. — Lacan foi certamente o psicanalista que tomou para si a tarefa de responder à pergunta acerca das repercussões do acontecimento psicanálise para a razão e suas estruturas. Foi assim que ele cunhou o provocativo sintagma “a razão desde Freud”. Isso não faz dele um filósofo. Seu campo de atuação continua sendo a psicanálise, mas passa, de maneira instigante e produtiva, pela filosofia — diz.
Uma medida do interesse por Lacan na Filosofia está na afirmação de Badiou que “nenhum filósofo contemporâneo pode ser considerado importante se não se confrontou com a interpretação lacaniana da filosofia”. E, numa provocação aos psicanalistas, completa: “A psicanálise é muito séria para ser deixada na mão de psicanalistas”, numa boutade que indica também a rixa entre os estudiosos de Lacan na filosofia e na clínica psicanalítica.

Psicanálise como resistência
Avesso ao academicismo filosófico e se mantendo na clínica psicanalítica como lugar de resistência, Lacan vem se tornando um autor multidisciplinar. Como lembra Iannini, Lacan é lido nos estudos literários e de gênero e tratou de temas que interessam à psicologia, psicanálise, filosofia, linguística, estudos feministas, direito, educação, religião.
— Lacan tratou, com originalidade e rigor, temas como a feminilidade, a sexualidade, mas também a verdade, a subjetividade, a linguagem. Fez incursões na lógica, na poesia, na epistemologia, na religião. Os resultados de tantas incursões é, naturalmente, desigual — reconhece Iannini.
Autor de uma obra vasta, mas também de muitas histórias curiosas a seu respeito — o psicanalista deu origem a termos como “lacanagem” ou “lacanês”, este último uma referência ao caráter hermético de seus textos —, o pensamento de Lacan mantém uma potência crítica que, na avaliação de Iannini, “deriva de uma estratégia de formalização do campo conceitual que chega à ideia de não-todo”. Depois de Lacan, Iannini acredita que a filosofia pode interrogar “seu desejo mortífero pela totalidade e pelo absoluto, sem desorientar-se no pensamento”. Lacan forneceria, assim, instrumentos para pensar uma lógica da incompletude, beneficiando a filosofia contemporânea com seu trabalho.
— Nem que seja para economizar algumas de suas pretensões descabidas, como a discussão da essência da verdade ou sua fundamentação, do sentido do sentido, assim como para afastar algumas perspectivas obsoletas, como as ideias de uma subjetividade fundada na transparência da consciência e da vontade, ou mesmo, certas ideias da filosofia da mente, calcadas em uma psicologia cognitiva cujos compromissos ideológicos com a hipóstase de certas formas de vida não pode ser escondida — conclui Iannini.
Todas estas leituras em tantas áreas contrastam, no entanto, com a percepção de que Lacan foi um pensador solitário no século XX, hipótese que Iannini defende no livro. Seu argumento é que, na filosofia do século XX, aqueles que questionaram a possibilidade de fundamentação da verdade acabaram abandonando a própria ideia de verdade. Por outro lado, aqueles que mantiveram a centralidade da verdade não abriram mão de fundá-la em alguma instância metalinguística.
— Lacan é um solitário, que aceita o desafio perspectivista de Nietzsche sem, no entanto, abandonar a centralidade da verdade — diz Iannini. Para ele, Lacan inscreveu no discurso analítico o que responde ao quebra-cabeça que deixou a filosofia do pós-guerra numa situação embaraçosa.
— É como diz Gérard Wajcman, a filosofia ficou sem saber como fazer o impensável entrar no pensamento, o irrepresentável entrar na representação, a ausência entrar na presença. Eis uma lição a aprender com Lacan: como sair do embaraço.
 

(Texto escrito por Carla Rodrigues, que é professora de Filosofia na UFF e de Comunicação na PUC-Rio, doutora em Filosofia e pesquisadora do CNPQ - Matéria reproduzida no Jornal o Globo de 13/10/2012).






Sim Criolo, existe...

 
Hoje parei no cruzamento da Lins com a Vergueiro, em sampa, e fui capturada pelo nome entalhado na placa da padaria de esquina: “lagoa azul”.
Lagoa azul, tal como naquele filme dos anos 80 que ganhou sequência e diversas reprises na tv. Imediatamente me transportei para a ilha onde, longe da civilização, dois jovens cresceram, se apaixonaram e decidiram ali permanecerem. “Se na ficção houve quem colocasse em primeiro lugar o que realmente conta, haveria quem o fizesse nesta desvairada realidade?”, devaneei.
- Quer comprar flores? – é a pergunta com a qual o ambulante me retirou do mergulho em minhas profundezas.
- Hoje não. “Não tenho para quem levá-las”, pensei. “Existirá quem compre toda esta variedade de rosas que o vendedor cuidadosamente carrega nos braços enquanto circula entre os carros?”.
Como que em resposta a minha incredulidade, um braço no carro à frente se estendeu, comprando não uma, mas várias rosas, todas cuidadosamente escolhidas.
Segui o meu caminho, muito trânsito e calor.
Parei em uma cafeteria, pedi refrigerante diet. Enquanto observava o movimento, me detive em uma senhora que, numa mesa próxima à janela, esperava – ela batia os dedos ligeiramente na mesa, e vez por outra, tímida, levantava os olhos em direção à porta, para em seguida os voltar, desiludida, ao chão. Alguns minutos se passaram antes que um sujeito com aroma de almíscar entrasse. Ele se aproximou da dama, tomou as mãos dela entre as suas e as beijou com delicadeza. Ela, fracassando em se conter, abriu largo sorriso.
Há tanta coisa errada, violência, medo, assustadora indiferença. Mas se nos atentarmos para os cruzamentos, frestas de janela, cafeterias, atrás das árvores, dos vidros embaçados e nos recônditos, iremos esbarrar nele. Sim Criolo, existe. Existe amor em SP.



 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O Banqueiro anarquista - Fernando Pessoa

"Aceito - não tenho mesmo outro remédio" - que o homem seja superior a mim por o que a Natureza lhe deu - o talento, a força, a energia; não aceito que ele seja meu superior por qualidades postiças, com que não saiu do ventre da mãe, mas qu...
e lhe aconteceram por babúrrio logo que ele apareceu cá fora - a riqueza, a posição social, a vida facilitada etc." - (p.31).
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"Porque isso de destruir as ficções sociais tanto pode ser para criar liberdade, ou preparar o caminho da liberdade, como para estabelecer outras ficções sociais diferentes, igualmente más porque igualmente ficções. Aqui é que era preciso cuidado" - ( p.42).
*
"Se um homem nasceu para escravo, a liberdade, sendo contrária à sua índole, será para ele uma tirania" - (p.75).
(Fernando Pessoa. O banqueiro anarquista. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006).
Conto na íntegra no link:

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

When Love Is Not Enough: The Lois Wilson Story (trecho de filme)

"Nossos corações não precisam de lógica.
Eles podem amar, perdoar e aceitar o que nossas mentes não conseguem entender.
Corações entendem de maneiras que a mente não consegue" - Lois Wilson
Sobre o filme:
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Trailer:


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Picasso & Jaqueline

Pablo Picasso nasceu em Málaga, no dia 25 de outubro de 1881. Em homenagem ao aniversário deste grande pintor, reproduzimos uma reportagem da revista Veja sobre Jaqueline Roque, sua última esposa e grande amor, além de fotos do casal.
 

domingo, 21 de outubro de 2012

Mas inverossímil por que? - Dostoiévski

"Aliás, não afirmo que ela compreendesse tudo isto com nitidez; em compensação, compreendera inteiramente que eu era um homem vil e, sobretudo, incapaz de amá-la.
Sei que me dirão que isso é inverossímil; que é inverossímil ser tão malvado e estúpido como eu; acrescentarão talvez que era inverossímil não passar a amá-la ou, pelo menos, não avaliar aquele amor. Mas inverossímil por quê? Em primeiro lugar, eu não podia mais apaixonar-me, porque, repito, amar significava para mim tiranizar e dominar moralmente. Durante toda a vida, eu não podia sequer conceber em meu íntimo outro amor, e cheguei a tal ponto que, agora, chego a pensar por vezes que o amor consiste justamente no direito que o objeto amado voluntariamente nos concede de exercer tirania sobre ele. Mesmo nos meus devaneios subterrâneos, nunca pude conceber o amor senão como uma luta: começava sempre pelo ódio e terminava pela subjugação moral; depois não podia sequer imaginar o que fazer com o objeto subjugado. E o que há de inverossímil nisso, se eu já conseguira apodrecer moralmente a ponto de me desacostumar da "vida vida", e haver tido a idéia de censurar Liza, de envergonhá-la com o fato de ter vindo a minha casa ouvir "palavras piedosas"; mas eu mesmo não adivinhara que ela não viera absolutamente para ouvir palavras de piedade, mas para me amar, pois para a mulher é no amor que consiste toda a ressureição; toda a salvação de qualquer desgraça e toda a renegação não podem ser reveladas de outro modo. Aliás, eu não a odiava tanto assim quando corria pelo quarto e espiava pelo biombo, através de uma pequena fresta. Dava-me apenas um sentimento insuportavelmente penoso o fato de que ela estivesse ali. Queria que ela sumisse. Queria "tranquilidade", ficar sozinho no subsolo. A "vida viva", por falta de hábito, comprimira-me tanto que era difícil até respirar".
  (Dostoiévski. Memórias do subsolo. São Paulo: Editora 34, 2004, p. 141-2).

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Melancolia por Marcilio Ficino


Black circle - Malevich
"Mas parece ser um princípio natural que em sua investigação das ciências, principalmente as mais complexas, a mente precisa afastar-se das coisas externas e aproximar-se das internas, indo, por assim dizer, da circunferência para o centro, e enquanto prossegue em sua contemplação deve permanecer solidamente no centro do próprio homem. Mas caminhar da circunferência para o centro e nele fixar-se é característica principal daquela região da mente com a qual a bílis negra tem afinidades especiais. Fixar-se no centro é como estar no centro da própria Terra, que se assemelha a bílis negra. Por isso a bílis negra provoca continuamente o espírito para que se dirija a esse ponto, reúna-se a si mesmo numa unidade, nele se detenha e contemple.
Cena do filme Melancolia - Lars Von Trier

E como se ele próprio é semelhante ao centro da terra, esse humor obriga a investigar o centro de todas as coisas singulares e leva à compreensão das verdades mais profundas, pois isto está de acordo com Saturno, o mais alto dos planetas".

(Marcilio Ficino. Book of life. Woodstock: Spring Publications, 1996, p.6. Citado por Berlinck. Melancolia: rastros de dor e de perda. São Paulo: Humanitas, 2008, p. 25).