"...e
eu te verei se no meio dessa multidão estiveres, que só para te ver
quero agora os olhos, a boca me amordaçaram, não os olhos, olhos que não
te viram, coração que sente e sentiu, ó coração meu, salta-me no peito
se Blimunda aí estiver..." (p.53).
"Porque,
enfim, podemos fugir de tudo, não de nós próprios" - ( p.70).
"Dormiu cada qual como pôde, com seus próprios
e secretos sonhos, que os sonhos são como as pessoas, acaso parecidos,
mas nunca iguais, tão pouco rigoroso seria dizer Vi um homem, como
Sonhei com água a correr, não chega isto para sabermos que
homem era nem que água corria, a água que correu no sonho é água só do
sonhador, não saberemos o que ela significa ao correr se não soubermos
que sonhador é esse, e assim vamos do sonhador ao sonhado, do sonhado ao
sonhador, perguntando, Um dia terão lástima de nós as gentes do futuro
por sabermos tão pouco e tão mal" - ( p.121)
"Já sabemos que destes dois se amam as almas,
os corpos e as vontades, porém, estando deitados, assistem as vontades e
as almas ao gosto dos corpos, ou talvez ainda se agarrem mais a eles
para tomarem parte no gosto, difícil é saber que parte
há em cada parte, se está perdendo ou ganhando a alma quando Blimunda
levanta as saias e Baltasar descalça as bragas, se está a vontade
ganhando ou perdendo quando ambos suspiram e gemem, se ficou o corpo
vencedor ou vencido quando Baltasar descansa em Blimunda e ela o
descansa a ele, ambos se descansando" - ( 137-8).
*
"Durante
muitas horas desse dia não verá Baltasar o rosto de Blimunda, ela
sempre adiante, avisando se tem de voltar-se, é um estranho jogo o
destes dois, nem um quer ver, nem o outro quer ser visto, parece tão
fácil, e só eles sabem quanto lhes custa não se olharem. Por isso, lá
pelo fim do dia, quando Blimunda já tiver comido e os seus olhos
regressarem à comum humanidade, Baltasar poderá sentir acordar o seu
próprio e entorpecido corpo, menos cansado da caminhada que de não ser
olhado" - (p.179).
"Tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas"
*
"Desprendeu-se a vontade de Baltasar Sete-Sóis, mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia e a Blimunda" .
(In. Memorial do convento. Rio de Janeiro: Bertrand, 1989).