Lou Andreas Salomé, Nietzsche e Paul Ree em 1882. |
"Sem dúvida, um primeiro encontro com Nietzsche nada oferecia de revelador ao observador superficial. Esse homem de estatura mediana, de traços calmos e cabelos castanhos penteados para trás, vestido de maneira modesta apesar de extremamente bem cuidada, podia facilmente passar despercebido. Os traços finos e maravilhosamente expressivos de sua boca eram quase cobertos por completo pelo emaranhado de um espesso bigode pendente. Ele tinha um riso suave, uma maneira de falar sem barulho, um andar prudente e circunspecto que o fazia curvar ligeiramente os ombros. Era difícil imaginar essa silhueta no meio de uma multidão: ela tinha a marca que distingue aqueles que vivem sós e em movimento. O olhar, em contrapartida, era irresistivelmente atraído pelas mãos de Nietzsche, incomparavelmente belas e finas, que ele mesmo acreditava traírem seu gênio. (...) Seus olhos também o revelavam. Apesar de quase cegos, não tinham o olhar vacilante e involuntariamente perscrutador que caracteriza vários míopes. Antes pareciam guardiões protegendo seus próprios tesouros, defendendo segredos mudos sobre os quais nenhum olhar indesejável poderia chegar. Sua visão defeituosa conferia a seus traços um charme mágico sem igual; pois, ao invés de refletir as sensações fugidias provocadas elo turbilhão dos acontecimentos externos, eles reproduziam apenas o que vinha do interior dele mesmo. Seu olhar estava voltado para dentro, mas ao mesmo tempo - para além dos objetos familiares - ele parecia explorar o longínquo - ou, mais exatamente, explorar o que estava dentro dele como se estivesse longe".
Lou Andreas Salomé, Nietzsche e Paul Ree em 1882.
(In. Dorian Astor. Lou Andreas Salomé. Porto Alegre: LPM, 2015, p. 65).
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Esse mano na suruba é o Nietzsche msm ?
ResponderExcluirme parece que sim: Lou Andreas-Salomé, Paul Ree and Friedrich Nietzsche in Jules Bonnet studio, Lucerne 1882
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