"Nós entendemos o que vocês querem, o que vocês querem é legítimo".
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"Hoje ninguém em sã consciência é capaz de acreditar no capitalismo".
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"Nunca se penseou sem descrença. Quando se acredita demais em alguma coisa, você não tem razão de colocar em marcha a potência criativa do pensamento".
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"Confiar no indeterminado (...) confiar no impossível é um elemento fundamental para que os processos criativos ocorram".
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"Alguma coisa que possa ganhar uma dimensão maior do que todos nós...se nós acreditarmos nisso, é possível que isso ocorra. A possibilidade disso já vale uma vida".
"Eu nunca entendi a dicotomia entre teoria e praxis, porque o pensamento, quando ele pensa de verdade, ele age" - Heidegger, em "Cartas ao Humanismo", sendo citado por Vladimir Safatle, na Aula pública Universo Cidade Livre -Ocupa Sampa.
Eu ia triste, triste, com a tristeza discreta dos fatigados,
com a tristeza torpe dos que partiram tendo despedidas,
tão preso aos lugares de onde o trem já me afastara estradas arrastadas,
que talvez eu não estivesse todo inteiro presente
no horror dessa viagem.
Mas a minha tristeza pesava mais do que todos os pesos,
e era por causa de mim, da minha fadiga desolada,
que a locomotiva, lá adiante, ridícula e honesta,
[bracejava,
puxando com esforço vagões quase vazios,
com almas cheias de distância, a penetrar no longe.
A tarde subiu do chão para a paisagem sem casas,
e o comboio seguia,
cada vez mais longe, mais fundo, a terra mais vermelha,
o esforço maior, as montanhas mais duras,
como sabem ser duros os caminhos,
pelos quais a gente vai, só pensando na volta...
Coagulada em preto,
a noite isolou as cousas dentro da tarde,
e o barulho do trem foi um rumor de soçobro
no fundo de um mar sem tona.
Nem mesmo foi a noite: foi a ausência
brusca e absurda do dia.
Tão definitiva e estranha, que eu me alegrei, esperando
o não continuar da vida,
o não-regresso da luz, o não-andar-mais do trem....
"- Pensei que você e eu talvez pudéssemos ir a algum lugar juntos, um destes dias...hoje...agora mesmo...vem comigo.
- Não, eu......creio que não vá ser possível.
- Por que não?
- Porque se vamos a algum lugar juntos, tenho medo que um dia, talvez não hoje, nem amanhã, mas um dia, de repente.....pode ser que eu comece a chorar e chore tanto que nada nem ninguém possa impedir. E as lágrimas encham o quarto e me falte o ar e te arraste comigo e nos afoguemos os dois.
- Aprenderei a nadar, Hanna. Prometo. Aprenderei a nadar".
(Trecho final do filme "A vida secreta das palavras").
"Sou mestre na arte de falar em silêncio, passei minha vida toda conversando em silêncio e em silêncio acabei vivendo tragédias inteiras comigo mesmo. Oh, pois eu também era infeliz! Fui desprezado por todos, desprezado e esquecido, e ninguém, absolutamente ninguém sabe disso! E depois, de repente, vem essa garota (...), pega de gente infme detalhes sobre a minha vida e pensa que sabe tudo, enquanto o que é secreto continua encerrado no peito deste homem!" (pgs.29-30).
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"Que me importam agora as vossas leis? De que me servem os vossos usos, os vossos costumes, a vossa vida, o vosso Estado, a vossa fé? Que me julgue o vosso juiz, que me levem para um tribunal, para o vosso tribunal público, e direi que eu não reconheço nada. O juiz gritará: "Cale-se oficial!". E começarei a gritar: "Onde está agora esse vosso poder para me fazer obedecer? Por que a tenebrosa rotina foi destruir aquilo que me era mais caro do que tudo? O que são as vossas leis para mim, agora? Eu estou me apartando de tudo isso". Ora, pouco importa!
(...) Você não sabe com que paraíso eu a teria cercado. O paraíso estava em minha alma, eu o teria plantado em seu redor! Bem, se você não me amava, muito bem, qual o problema? As coisas poderiam ter sido assim, tudo poderia ter permanecido assim. Podia contar-me coisas apenas como a um amigo, e aí nos divertiríamos e riríamos alegremente, olhando nos olhos um do outro. Poderíamos viver assim. E caso se apaixonasse por outro, pois que fose, que importa! Você poderia ir com ele, sorindo, enquanto eu ficaria olhando do outro lado da rua...Oh, pouco importa isso tudo, a única coisa que me importa é que abra os olhos, ao menos por um único instante! (...).
A rotina! Oh, natureza! Os homens estão sozinhos na terra, essa é a desgraça! (...) Dizem que o Sol dá vida ao universo. O Sol está nascendo, olhem para ele, por acaso não é um cadáver? Tudo está morto, e há cadáveres em toda parte. Os homens estão sozinhos, rodeados pelo silêncio - isso é a terra! "Homens, amai-vos uns aos outros" - quem disse isso? De quem é esse mandamento? O pêndulo bate de um modo insensível, nauseante. São duas horas da madrugada (...). Não, falo sério, quando a levarem amanhã, o que vai ser de mim?" (pgs.87-8).
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(Uma criatura dócil. São Paulo: Cosac Naify, 2009 [1876]).