"-Meu coração estava disparado.
-Você certamente me enganou. Se eu soubesse. Por que não me disse antes?
-Eu tenho escondido meus sentimentos por toda minha vida. Eu sempre fui evasivo.
-Você não confia em ninguém.
-Confio em você, Sabine. De verdade"
Anseio por te ver novamente, num sentido a-fenomenológico. Sinto a tua falta na minha clareira ek-sistencial. A minha mulher é chata, idiota e deixa-me o ser doente. Além disso, não percebe patavina daquilo que escrevo. Porque será? Também não compreende que a verdade (no sentido platónico de aletheia) de uma re-lação reside na in-sistência que busca o des-velamento.
Oh, Hannah... Só tu provocas no meu ser-aí a ab-soluta ek-citação. Deixa-me ir à tua casa do ser. Tira-me deste vazio utilitário e devolve-me uma ek-sistência individual concreta. Vamos estudar juntos o ser-para-a-pequena-morte.
Do sempre teu (ou, pelo menos, enquanto o ser me animar o ente)..."
"O homem contemporâneo quer ser despojado não apenas de sua angústia de viver, mas também da responsabilidade de arcar com ela; quer delegar à competência médica e às intervenções químicas a questão fundamental do destino das pulsões, quer, enfim, eliminar a inquietação que o habita em vez de indagar o seu sentido".
"O que o apelo contemporâneo ao gozo faz é dificultar o nosso reconhecimento da lei, por falta de uma base discursiva que confira apoio e significado à impossibilidade do gozo. Isso afeta necessariamente o efeito da Lei sobre as pessoas? Talvez, na medida em que nos propomos um gozo impossível como ideal a ser atingido e não - como no caso de uma sociedade vitoriana, por exemplo - como mal a ser evitado. Assim, o apelo ao gozo produz mais angústia do que o gozo propriamente dito, mais violência (pois é com violência que reagimos à violência dos imperativos) do que fruição".
(Maria Rita Kehl, em "Sobre ética e Psicanálise". SP: Companhia das Letras, 2007, p.8-15)
"Atravessamos a angústia quando uma palavra, um acontecimento, um gesto ou um silêncio, não importa, uma revelação fulgurante proveniente do psicanalista ou surgida de improviso em mim mesmo, analisando, me faz compreender que eu podia aceitar perder, porque o risco nunca foi o risco de um todo, mas de uma parte; e de uma parte que estará sempre perdida. Compreendi, não mentalmente, mas em ato, que qualquer que seja o resultado final dessa travessia da angústia, o risco continuará necessariamente parcial, e a perda, inevitavelmente sofrida. Compreendi, e meu corpo compreendeu, que nunca perderei tudo, e que, se ganhar, jamais ganharei sem perder ".
(Juan David Nasio. A Histeria. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. p.91)
Realização: Hugo Denizart
Direção: Maria Alves de Lima
Produção: CNPI (Centro Nacional de Produção Independente)
Edição e montagem: Ricardo Miranda
Fotografia e câmera: John Howard Szerman
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Documentário curta sobre o sergipano ex marinheiro, pugilista, acidentado de trabalho pela Viação Excelsior (subsidiária da Light) e empregado doméstico, Arthur Bispo do Rosario, interno número 01662 daquele que chegou a ser o maior manicômio das Américas durante os anos 1960, a Colônia Juliano Moreira, no bairro de Jacarepaguá, Rio de Janeiro, sob o diagnóstico único de esquizofrênico paranóico, desde os seus presumíveis 29 anos de idade, em 25 de janeiro de 1939 (cinco anos depois do interno fugitivo Ernesto Nazareth ser encontrado morto por afogamento), até o seu infarto do miocárdio às dezenove horas do dia 5 de julho de 1989.
O legado de Bispo de mais de 1000 peças, entre bordados, estandartes, “assemblages”, roupas, esculturas, arquivos e anotações, começou a ser conhecido fora do manicômio a partir de uma reportagem do jornalista Samuel Wainer Filho para o programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, em 18 de maio de 1980, cuja pauta inicial era denunciar os maus tratos sofridos pelos internos psiquiátricos. Dois anos depois, foi convencido a permitir que algumas de suas peças saíssem do manicômio para integrarem a exposição coletiva “À margem da vida”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, junto com trabalhos praxiterapêuticos de presidiários, menores infratores, idosos e alguns outros pacientes psiquiátricos.
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Hugo Denizart “nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1946, e singularizou-se por unir a fotografia à sua experiência como psicanalista e psiquiatra, muito embora tenha tido um começo de carreira ortodoxo no campo da imagem por atuar como repórter fotográfico do Jornal do Brasil entre 1971 e 1973. Seu primeiro ensaio pessoal focalizou os moradores de rua do Ceará, em 1971. Concentrou-se depois na cidade do Rio de Janeiro, onde realizou significativos e distintivos ensaios sobre temas polêmicos e candentes como a Cidade de Deus (1978); os internos da colônia psiquiátrica Juliano Moreira (1980); as prostitutas de Vila Mimosa (1988); e os travestis da praça Tiradentes (1997). Publicou os livros de fotografia: Região dos Desejos (1983); Inventando Corpos (1987); Como Eles Dizem… (1991); e Engenharia Erótica (1998); assim como um livro de poesia e textos curtos intitulado Conto do Vigário (2003).” (Pedro Vasquez, “Memória das Artes”, Funarte: funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/infoto/biografia-de-hugo-denizart/ )
“Dirigiu os filmes documentários Líderes de quadrilha (1980); Prisioneiro da passagem (1982), sobre o artista Arthur Bispo do Rosário, interno da Colônia Juliano Moreira; e Região dos desejos (1983), sobre as internas da Colônia Juliano Moreira. Recebeu o prêmio de melhor exposição de fotografia da Associação Paulista de Críticos de Arte (1984).” (Coleção Pirelli/MASP de Fotografia: colecaopirellimasp.art.br/autores/115/obra/415 )
“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, económico, define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino. Só a mediação de outrém pode constituir um indíviduo como outro.” (Beauvoir, 1987:13).
Vídeo disponível no youtube com imagens reais de Frida Kahlo:
"Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderón, terceira filha de Guilhermo e Matilde Kahlo, nasceu em 6 de julho de 1907, às oito e meia da manhã, em plena estação das chuvas de verão, quando o alto platô da Cidade do México fica abafado e úmido. Os primeiros dois nomes foram dados a Frida para que ela pudesse ser batizada com um nome cristão. Seu terceiro nome, o que a família usava, sognifica "paz" em alemão (embora em sua certidão de nascimento conste a grafia "Frida", o nome da pintora foi escrito com e - Frieda -, à moda alemã, até o final da década de 30, quando ela abandonou a letra por causa da ascensão do nazismo na Alemanha)".
(In: Frida: a biografia - Hayden Herrera. São Paulo: Globo, 2011. p.24).