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terça-feira, 19 de março de 2013

Diário da tua ausência - Margarida Rebelo Pinto (I)

"É possível que no meu patrimônio genético exista o gene da espera, herdado das avós das avós das minhas avós, séculos a fio repletos de gerações de mulheres que viveram toda a sua vida à espera dos homens, desde a reconquista de Portugal, escondidas nas pequenas aldeias do norte  sob a proteção do condado. Depois, até o reinado de D. Afonso IV, enquanto combatiam a mourama. E mais tarde, na era dos Descobrimentos, quando partiam em naus e caravelas e ficavam por lá, a plantar a bandeira de Portugal nas praias que iam conquistando, erguendo padrões e fortes onde podiam, desde a costa africana até às Índias, passando pelo Brasil e por tantos outros lugares.
As mulheres portuguesas sempre esperaram pelos homens e a isso chamo a vocação de Penélope, a sábia e sensata mulher de Ulisses que esperou vinte anos pelo marido, sem nunca permitir que nenhum outro homem se casasse com ela e usurpasse o trono de Ítaca. A lenda não revela se ela satisfez as suas necessidades sexuais com outros homens, por isso nunca saberemos se a mulher do guerreiro era mesmo um modelo de abnegação e sacrifício, ou apenas sabia como fazer as coisas. O que conta é o que a lenda reza e a lenda diz que Penélope nunca cedeu ao medo, nunca deixou de acreditar que um dia Ulisses voltaria (...).
Como é incompleta a Odisséia! A história devia ter contado os milhares de trabalhos de Penélope a tentar defender a sua casa e o seu coração (...). De que valem Cíclopes aterradores, ilhas encantadas, cercos de guerras que duram dez anos e sereias que fazem naufragar navios, comparados com a luta pela sobrevivência de um amor incerto e sem garatias durante mais de vinte anos, num tempo em que ausência não tinha outra resposta que não fosse o silêncio e desconhecimento? Penélope era forte. Não desistiu de esperar, mesmo sem telefones, e-mails, ou mensagens escritas.
A história da humanidade esqueceu-se de contar a outra história, a história de todas as Penélopes...".
(In: Diário da tua ausência. Rio de Janeiro: Bertrand, 2012, p.12-15).
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Penélope retratada na arte:









domingo, 17 de março de 2013

O dia em que te esqueci - Margarida Rebelo Pinto (II)

 
"Não há culpa nem mérito em tudo o que o destino decide por nós, muito menos quando somos ainda umas crianças e o inesperado nos atinge na maior fragilidade e esmaga os nossos virgens espíritos.
A tua natureza fugidia e arisca não é a tua primeira natureza, antes uma reação à realidade com que  te confrontaste. Nunca te habituaste a dar. Quando eras ainda uma criança, a tua vida mudou tão repentinamente que eese choque só é comparável a um refugiado de guerra" - (p.27).
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"É mais fácil arrancar uma árvore com todas as suas raízes do que esquecer a intimidade" - (p.31).
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"Nunca tive medo da luz, nem tampouco me assustei com a minha sombra, mas aprendi a ver nas trevas dos outros a grandeza da minha própria escuridão, e demorei demasiados anos a a aceitar que, se há coisas que nunca se agarram, o amor é uma delas. Sempre que tentas correr atrás dele, brinca com a tua dor, faz-se de gato da Alice, que escarnece de nós para desaparecer em seguida, brincando aos impostores como Oz, o feiticeiro, que se divertia a ser mau, só para provar que a maldade é uma força indomável, com vida própria, que não vale a pena tentar domesticar ou fingir ignorar. O amor aparece para alterar o rumo da tua vida, e acaba sempre por conseguir, quer queiras, quer não" - (p.30-1).
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"Se não crer em si mesmo é um sinal de fraqueza, de si nunca duvidar é outro, e ainda mais ridículo" - (p.57).
 
(Margarida Rebelo Pinto. O dia em que te esqueci. Rio de Janeiro: Bertrand, 2012).


sexta-feira, 15 de março de 2013

O dia em que te esqueci - Margarida Rebelo Pinto (I)

"Todas as famílias escondem tragédias, guardam segredos e revelam idiossincrasias. Lembro-me de uma frase de Lucía Etxebarría que te enviei há alguns anos e que adotaste como uma das tuas poucas verdades: as únicas famílias felizes são as que se conhecem mal.
Ambos sabemos muito bem quanta sabedoria está contida em tal afirmação. Várias vezes aludiste à falta de intimidade que tens com a tua família, sempre com o cuidado de nunca a confundires com ausência de afeto ou proximidade.
A intimidade é outra coisa, e disso sabemos nós. A nossa assusta-te tanto, que ainda foges dela".
(O dia em que te esqueci. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p.16-7)

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Retorno á questão judaica - Elisabeth Roudinesco (trecho)

 
"Quando Báal Shem Tov tinha uma tarefa difícil para cumprir, ia para certo local na floresta, acendia uma fogueira e mergulhava numa oração silenciosa; e o que ele tinha para cumprir se realizava. Quando, uma geração depois, o Maguid de Meseritz se viu confrontado com a mesma tarefa, foi para aquele mesmo local na floresta e disse:" Já não sabemos acender a fogueira, mas ainda sabemos dizer a oração". E o que ele tinha para cumprir se realizou. Uma geração depois, Rabi Moshe ...Leib de Sassov teve de cumprir a mesma tarefa. Também ele foi para a floresta e disse: "Já não sabemos acender a fogueira, já não conhecemos os mistérios da oração, mas ainda conhecemos o local preciso da floresta onde aquilo acontecia, e isso deve bastar". E bastou. Mas quando outra geração passou e o Rabi Israel de Rishin teve de enfrentar a mesma tarefa, ficou em casa sentado na sua poltrona e disse: "Já não sabemos acender a fogueira, já não sabemos dizer as orações, já nem conhecemos o local na floresta, mas ainda sabemos contar a história". E a história que ele contou teve o mesmo efeito que as práticas de seus predecessores.
Para além do hassidismo, esse episódio revela o que é o pertencimento identitário vivido pelos judeus...definido como um "resto" e como um "lembra-te!".
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(Elisabeth Roudinesco. Retorno à questão judaica. Rio de Janeiro: Zahar, 2010, p.21)

Frankenweenie - (trecho)

"- Você deveria ser cientista.
- Ninguém gosta de cientistas.
- Eles gostam do que a ciência nos dá, mas não das perguntas que ela faz.
- Eu tenho uma pergunta.
- Haaaaaa.....é por isso que você é um cientista.
- Eu estava fazendo meu projeto. E da primeira vez deu super certo. Mas da segunda vez não. Tipo, meio que funcionou, mas não deu, e eu não sei o porquê.
- Talvez não tenha entendido direito da primeira vez. As pessoas acham que a ciência está aqui [na mente], mas ela também está aqui dentro [do coração]. Na primeira vez, amava seu experimento?
- Amava.
- E na segunda?
- Não, só queria terminar logo.
- Então você mudou as variáveis".
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Trailer do filme disponível no youtube:
 


sábado, 9 de fevereiro de 2013

O Diário de Frida Kahlo - (trechos)

 
Durante os últimos dez anos de vida, a artista mexicana Frida Kahlo manteve um diário em que documentou sua luta política, reflexões da vida conturbada e dores pessoais, além do amor pelo marido, o muralista Diego Rivera.
As pinceladas coloridas e manuscritos poéticos da artista podem ser apreciados pelo público na reedição de “O Diário de Frida Kahlo – Um Autorretrato Íntimo”, uma reprodução fiel de todo o material produzido entre 1944 a 1954.
Sucesso em todo o mundo, o livro foi publicado no Brasil pela editora José Olympio em 1994. Depois de anos fora do catálogo, está de volta às livrarias em edição capa dura, com apresentação do crítico de arte Frederico de Moraes.
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Abaixo, algumas páginas do diário. Para visualiza-las em tamanho ampliado, basta clicar sobre a imagem:
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Mas, como lhe explico a minha necessidade enorme de ternura! A minha solidão de anos.
A minha estrutura deformada devido à sua carência de harmonia, a sua inaptidão" - (pg. 126 do diário).
 
 


domingo, 27 de janeiro de 2013

A origem da vida - filme (trecho)

 
- Eu queria saber se você está bem.
- Vamos deixar uma coisa bem clara. Nunca vou ficar bem. Certo? Sou um caso perdido. Uma aberração, como você. Não esquenta. Acho que ser uma aberração é meio legal.
- É?
- É melhor do que ser uma ovelha como o resto deles. Por que todo mundo quer ser como todo mundo?
 
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Trailer do filme disponível no youtube:


sábado, 26 de janeiro de 2013

Para Roma com amor - Woody Allen (trecho).

 
"-Sim, ele é legal.
-Sexy, como você disse para a Sally.
-Ouça, é o vinho que vai falar. Ele não é uma pessoa emotiva. Não é um sofredor.
- O que há de tão bom em sofrer?
-Há algo de atraente num homem sensível às agonias da existência".
 
 
Trailer do filme no youtube:
 


N* 113 - Walter Benjamin


"Esquecemos há muito tempo o ritual sob o qual foi edificada a casa da nossa vida. Quando, porém, ela está para ser assaltada e as bombas inimigas já a atingem, que extenuadas, extravagantes antiguidades elas não poem a nu ali nos fundamentos! Quanta coisa não foi enterrada e sacrificada sob fórmulas mágicas, que apavorante gabinete de raridades há embaixo, onde, para o mais cotidiano, estão reservadas as valas mais profundas. Em uma noite de desespero eu me vi em um sonho re...novar tempestuosamente amizade e fraternidade com o primeiro companheiro de meu tempo de escola, que já há decênios não conheço mais e de que mesmo nesse instante mal me lembrava. Ao despertar, porém, ficou claro para mim: o que o desespero, como uma explosão, tinha exposto à luz do dia, era o cadáver desse homem, que estava emparedado lá, parecendo dizer: quem mora aqui agora não deve assemelhar-se a ele em nada" -
(Walter Benjamin. Rua de Mão Única. São Paulo: Brasiliense, 1987, p.12-3).



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Água de beber - Tom Jobim

Hoje é aniversário do maestro & poeta Tom Jobim  (Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 1927Nova Iorque, 8 de dezembro de 1994).

"Eu quis amar, mas tive medo
E quis salvar meu coração
Mas o amor sabe um segredo
O medo pode matar o seu coração
Água de beber
Água de beber camará
Água de beber
Água de beber camará
Eu nunca fiz coisa tão certa
Entrei pra escola do perdão
A minha casa vive aberta
Abri todas as portas do coração
Água de beber
Água de beber camará
Água de beber
Água de beber camará
Eu sempre tive uma certeza
Que só me deu desilusão
É que o amor é uma tristeza
Muita mágoa demais para um coração
Água de beber
Água de beber camará
Água de beber
Água de beber camará...".
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Documentário e entrevista - Tom Jobim no bar Academia, disponível no youtube:


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