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segunda-feira, 1 de abril de 2013

O Dia que durou 21 anos - (filme)



Este documentário mostra a influência do governo dos Estados Unidos no Golpe de Estado no Brasil em 1964. A ação militar que deu início à ditadura contou com a ativa participação de agências como CIA e a própria Casa Branca. Com documentos secretos e gravações originais da época, o filme mostra como os presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson se organizaram para tirar o presidente João Goulart do poder e apoiar o governo do marechal Humberto Castelo Branco.
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Parte 1:
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Parte 2:
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Parte 3:

domingo, 31 de março de 2013

Arte e Filosofia - Alain Badiou (II)

 
"Ora, o que se constata? Que, no esquema romântico, a relação da verdade com a arte é de fato imanente (a arte expõe a descida finita da Idéia), mas não singular (pois se trata da verdade, e o pensamento do pensador não se coaduna com nada que difere do que o dizer do poeta desvela). Que, no didatismo, a relação é certamente singular (só a arte pode expor uma verdade sob a forma de aparência), mas de modo algum imanente, pois em definitivo a posição da verdade é extrínseca. E que, finalmente, no classicismo, trata-se apenas do que uma verdade coage no imaginário, sob a forma do verossímil.
Nos esquemas herdados, a relação das obras artísticas com a verdade jamais consegue ser ao mesmo tempo singular e imanente.
Afirmar-se-á, portanto, essa simultaneidade. O que também se diz: a própria arte é um procedimento de verdade. Ou ainda: a identificação filosófica da arte depende da categoria de verdade.
A arte é um pensamento cujas obras são o real (e não o efeito). E esse pensamento, ou as verdades que ele ativa, são irredutíveis às outras verdades, sejam elas científicas, políticas ou amorosas. O que também quer dizer que a arte, como pensamento singular, é irredutível à filosofia.
Imanência: a arte é rigorosamente coextensiva às verdades que prodigaliza.
Singularidade: essas verdades não são dadas em nenhum outro lugar a não ser na arte.
Nessa visão das coisas, o que ocorre com o terceiro termo do entrelaçamento, a função educativa da arte? A arte educa simplesmente porque produz verdades e porque "educação" jamais quis dizer nada além (a não ser nas montagens opressivas ou pervertidas) do seguinte: dispor os conhecimentos de tal maneira que alguma verdade possa se estabelecer.
A coisa pela qual a arte educa é simplesmente a sua existência.
Trata-se apenas de encontrar essa existência, o que quer dizer: pensar um pensamento.
A filosofia deve, a partir de então, no que diz respeito à arte e a todo procedimento de verdade, mostrá-Ia como tal. A filosofia é de fato a intermediária dos encontros com as verdades, a alcoviteira do verdadeiro. E da mesma maneira que a beleza deve estar na mulher encontrada, mas não é absolutamente exigida da alcoviteira, as verdades são artísticas, científicas, amorosas ou  políticas, e não filosóficas".
Continua...
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 (In.Pequeno manual de inestética. São Paulo: Estação Liberdade, 2002, p.20-1).
 


sábado, 30 de março de 2013

Arte e Filosofia - Alain Badiou



Por "inestética" entendo uma relação da filosofia com a arte, que, colocando que a arte é, por si mesma, produtora de verdades, não pretende de maneira alguma torná-la, para a filosofia, um objeto seu. Contra a especulação estética, a inestética descreve os efeitos estritamente intrafilosóficos produzidos pela existência independente de algumas obras de arte.

Alain Badiou, abril de 1998


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Laço que desde sempre é alterado por um sintoma, o de uma oscilação, de um batimento.
Nas origens, existe o repúdio sustentado por Platão acerca do poema, do teatro, da música. De tudo isso, deve-se dizer que o fundador da filosofia, evidentemente refinado conhecedor de todas as artes de seu tempo, só dá importância, na República, à música militar e ao canto patriótico. Na outra extremidade, encontra-se uma devoção piedosa em relação à arte, um ajoelhar-se contrito do conceito, pensado como niilismo técnico, diante da palavra poética que oferece sozinha o mundo ao Aberto latente de seu próprio desamparo.
 
 
Mas o sofista Protágoras já designava, afinal, o aprendizado artístico como a chave da educação. Havia uma aliança de Protágoras e de Simônides, o poeta cuja impostura o Sócrates de Platão tenta frustrar e sujeitar a seus próprios fins a intensidade pensável. Vem-me à mente uma imagem, uma matriz analógica do sentido: filosofia e arte são historicamente acopladas tal qual são, segundo Lacan, o Mestre e a Histérica. Sabe-se que a histérica vem dizer ao mestre: "A verdade fala por minha boca, estou aqui, e tu, que sabes, diga-me quem sou." E adivinha-se que, por maior que seja a sutileza douta da resposta do mestre, a histérica lhe dará a entender que ainda não é isso, que seu aqui escapa à apreensão, que se deve retomar tudo e redobrar esforços para lhe agradar. Nesse momento, ela ruma para o mestre e torna-se sua cortesã. E, da mesma maneira, a arte já está sempre aqui, dirigindo ao pensador a questão muda e cintilante de sua identidade, enquanto, por sua constante invenção, por sua metamorfose, ela declara-se decepcionada com tudo o que o filósofo enuncia a seu respeito. O mestre da histérica praticamente não tem outra escolha, caso demonstre má vontade à servidão amorosa, à idolatria que deve pagar com uma produção de saber estafante e sempre decepcionante, a não ser lhe passar o cetro. E, da mesma maneira, o mestre filósofo permanece dividido, no que diz respeito à arte, entre idolatria e censura. Ou dirá aos jovens, seus discípulos, que o cerne de qualquer educação viril da razão é manter-se afastado da Criatura, ou acabará por conceder que só ela, esse brilho opaco do qual só podemos ser cativos, nos ensine sobre o viés por onde a verdade comanda que o saber seja produzido.
Continua.....
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(Pequeno manual de inestética. Sao Paulo: Estaçao cultural, 2002, p.11-2).

quinta-feira, 28 de março de 2013

Zizek em São Paulo


Questionado sobre o porquê de estar editando um jornal para a classe menos privilegiada, uma vez que era um banqueiro, Kane responde:
"Se eu não defender o interesse dos privilegiados, então uma outra pessoa irá fazê-lo. Talvez alguém sem nenhum dinheiro ou propriedade, talvez eles mesmos comecem a defender os seus privilégios; e a gente não quer isso" -
 
(Zizek citando um diálogo do filme Cidadão Kane, de Orson Wells, na conferência de 8/3/13, em SP).
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Link para a conferência de Zizek no youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=IKDQ7ZJ3Aho

Conversas de botequim - (I)



Na fila de entrada para um evento marxista, encontrei uma senhora que comentava enfaticamente sobre o seu orgulho em não ter permitido que a sua filha adolescente assistisse ao fenômeno de bilheteria "Titanic".
Perguntei: - Mas por que não?...
- Porque o filme foi uma infâmia, lavagem cerebral. Pão e circo. Nada de bons valores sociais que pudessem sensibilizá-la.
-Não? E o drama da família burguesa que beirava a crise? E por que o romance entre Jack e Rose era mal visto? Mais, por que Rose se viu arrebatada por Jack? Mais: Por que haviam tantos imigrantes na terceira classe do navio? Mais ainda: E quanto as condições do navio, a luta dos ocupantes da terceira classe para se salvarem, dentre as classes sociais ocupantes, quem se salvou em maior número, e a custa de quem? Enfim, tem certeza de que sua filha não teria nada com o que ficar sensibilizada?
A inflamada senhora emudeceu.
Se Marx e Engels encontravam nos romances de Balzac, burguês autoproclamado, elementos de reflexão, quem somos nós para fazer por menos? Nada mais atual que o velho provérbio revisitado, a maldade da alienação está naquele que olha mas não vê, algo tanto ou mais assustador quanto as nosssas mazelas sociais, caros companheiros.

terça-feira, 19 de março de 2013

Diário da tua ausência - Margarida Rebelo Pinto (I)

"É possível que no meu patrimônio genético exista o gene da espera, herdado das avós das avós das minhas avós, séculos a fio repletos de gerações de mulheres que viveram toda a sua vida à espera dos homens, desde a reconquista de Portugal, escondidas nas pequenas aldeias do norte  sob a proteção do condado. Depois, até o reinado de D. Afonso IV, enquanto combatiam a mourama. E mais tarde, na era dos Descobrimentos, quando partiam em naus e caravelas e ficavam por lá, a plantar a bandeira de Portugal nas praias que iam conquistando, erguendo padrões e fortes onde podiam, desde a costa africana até às Índias, passando pelo Brasil e por tantos outros lugares.
As mulheres portuguesas sempre esperaram pelos homens e a isso chamo a vocação de Penélope, a sábia e sensata mulher de Ulisses que esperou vinte anos pelo marido, sem nunca permitir que nenhum outro homem se casasse com ela e usurpasse o trono de Ítaca. A lenda não revela se ela satisfez as suas necessidades sexuais com outros homens, por isso nunca saberemos se a mulher do guerreiro era mesmo um modelo de abnegação e sacrifício, ou apenas sabia como fazer as coisas. O que conta é o que a lenda reza e a lenda diz que Penélope nunca cedeu ao medo, nunca deixou de acreditar que um dia Ulisses voltaria (...).
Como é incompleta a Odisséia! A história devia ter contado os milhares de trabalhos de Penélope a tentar defender a sua casa e o seu coração (...). De que valem Cíclopes aterradores, ilhas encantadas, cercos de guerras que duram dez anos e sereias que fazem naufragar navios, comparados com a luta pela sobrevivência de um amor incerto e sem garatias durante mais de vinte anos, num tempo em que ausência não tinha outra resposta que não fosse o silêncio e desconhecimento? Penélope era forte. Não desistiu de esperar, mesmo sem telefones, e-mails, ou mensagens escritas.
A história da humanidade esqueceu-se de contar a outra história, a história de todas as Penélopes...".
(In: Diário da tua ausência. Rio de Janeiro: Bertrand, 2012, p.12-15).
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Penélope retratada na arte:









domingo, 17 de março de 2013

O dia em que te esqueci - Margarida Rebelo Pinto (II)

 
"Não há culpa nem mérito em tudo o que o destino decide por nós, muito menos quando somos ainda umas crianças e o inesperado nos atinge na maior fragilidade e esmaga os nossos virgens espíritos.
A tua natureza fugidia e arisca não é a tua primeira natureza, antes uma reação à realidade com que  te confrontaste. Nunca te habituaste a dar. Quando eras ainda uma criança, a tua vida mudou tão repentinamente que eese choque só é comparável a um refugiado de guerra" - (p.27).
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"É mais fácil arrancar uma árvore com todas as suas raízes do que esquecer a intimidade" - (p.31).
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"Nunca tive medo da luz, nem tampouco me assustei com a minha sombra, mas aprendi a ver nas trevas dos outros a grandeza da minha própria escuridão, e demorei demasiados anos a a aceitar que, se há coisas que nunca se agarram, o amor é uma delas. Sempre que tentas correr atrás dele, brinca com a tua dor, faz-se de gato da Alice, que escarnece de nós para desaparecer em seguida, brincando aos impostores como Oz, o feiticeiro, que se divertia a ser mau, só para provar que a maldade é uma força indomável, com vida própria, que não vale a pena tentar domesticar ou fingir ignorar. O amor aparece para alterar o rumo da tua vida, e acaba sempre por conseguir, quer queiras, quer não" - (p.30-1).
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"Se não crer em si mesmo é um sinal de fraqueza, de si nunca duvidar é outro, e ainda mais ridículo" - (p.57).
 
(Margarida Rebelo Pinto. O dia em que te esqueci. Rio de Janeiro: Bertrand, 2012).


sexta-feira, 15 de março de 2013

O dia em que te esqueci - Margarida Rebelo Pinto (I)

"Todas as famílias escondem tragédias, guardam segredos e revelam idiossincrasias. Lembro-me de uma frase de Lucía Etxebarría que te enviei há alguns anos e que adotaste como uma das tuas poucas verdades: as únicas famílias felizes são as que se conhecem mal.
Ambos sabemos muito bem quanta sabedoria está contida em tal afirmação. Várias vezes aludiste à falta de intimidade que tens com a tua família, sempre com o cuidado de nunca a confundires com ausência de afeto ou proximidade.
A intimidade é outra coisa, e disso sabemos nós. A nossa assusta-te tanto, que ainda foges dela".
(O dia em que te esqueci. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p.16-7)

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Retorno á questão judaica - Elisabeth Roudinesco (trecho)

 
"Quando Báal Shem Tov tinha uma tarefa difícil para cumprir, ia para certo local na floresta, acendia uma fogueira e mergulhava numa oração silenciosa; e o que ele tinha para cumprir se realizava. Quando, uma geração depois, o Maguid de Meseritz se viu confrontado com a mesma tarefa, foi para aquele mesmo local na floresta e disse:" Já não sabemos acender a fogueira, mas ainda sabemos dizer a oração". E o que ele tinha para cumprir se realizou. Uma geração depois, Rabi Moshe ...Leib de Sassov teve de cumprir a mesma tarefa. Também ele foi para a floresta e disse: "Já não sabemos acender a fogueira, já não conhecemos os mistérios da oração, mas ainda conhecemos o local preciso da floresta onde aquilo acontecia, e isso deve bastar". E bastou. Mas quando outra geração passou e o Rabi Israel de Rishin teve de enfrentar a mesma tarefa, ficou em casa sentado na sua poltrona e disse: "Já não sabemos acender a fogueira, já não sabemos dizer as orações, já nem conhecemos o local na floresta, mas ainda sabemos contar a história". E a história que ele contou teve o mesmo efeito que as práticas de seus predecessores.
Para além do hassidismo, esse episódio revela o que é o pertencimento identitário vivido pelos judeus...definido como um "resto" e como um "lembra-te!".
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(Elisabeth Roudinesco. Retorno à questão judaica. Rio de Janeiro: Zahar, 2010, p.21)

Frankenweenie - (trecho)

"- Você deveria ser cientista.
- Ninguém gosta de cientistas.
- Eles gostam do que a ciência nos dá, mas não das perguntas que ela faz.
- Eu tenho uma pergunta.
- Haaaaaa.....é por isso que você é um cientista.
- Eu estava fazendo meu projeto. E da primeira vez deu super certo. Mas da segunda vez não. Tipo, meio que funcionou, mas não deu, e eu não sei o porquê.
- Talvez não tenha entendido direito da primeira vez. As pessoas acham que a ciência está aqui [na mente], mas ela também está aqui dentro [do coração]. Na primeira vez, amava seu experimento?
- Amava.
- E na segunda?
- Não, só queria terminar logo.
- Então você mudou as variáveis".
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Trailer do filme disponível no youtube:
 


sábado, 9 de fevereiro de 2013

O Diário de Frida Kahlo - (trechos)

 
Durante os últimos dez anos de vida, a artista mexicana Frida Kahlo manteve um diário em que documentou sua luta política, reflexões da vida conturbada e dores pessoais, além do amor pelo marido, o muralista Diego Rivera.
As pinceladas coloridas e manuscritos poéticos da artista podem ser apreciados pelo público na reedição de “O Diário de Frida Kahlo – Um Autorretrato Íntimo”, uma reprodução fiel de todo o material produzido entre 1944 a 1954.
Sucesso em todo o mundo, o livro foi publicado no Brasil pela editora José Olympio em 1994. Depois de anos fora do catálogo, está de volta às livrarias em edição capa dura, com apresentação do crítico de arte Frederico de Moraes.
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Abaixo, algumas páginas do diário. Para visualiza-las em tamanho ampliado, basta clicar sobre a imagem:
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Mas, como lhe explico a minha necessidade enorme de ternura! A minha solidão de anos.
A minha estrutura deformada devido à sua carência de harmonia, a sua inaptidão" - (pg. 126 do diário).