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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tudo acontece em Elizabethtown

"-Acho que dormi a maior parte da minha vida.
-Eu também".
*
"Eu me sinto bem com tudo o que você diga ou não diga".
*
"A vida não é cruel a ponto de não merecermos ficar juntos".
"Não posso imaginar um mundo sem você"
*
"Sentirei falta de seus lábios e de tudo ligado a eles".
*
"Nenhum grande fiasco começou como uma busca pela simples adequação.
Um lema do Serviço Especial da Força Aérea Britânica é: "Os que arriscam, ganham".
Um simples broto verde de videira consegue crescer através do cimento.
O salmão do noroeste do Pacífico se debate e sangra para subir em seu desafio de percorrer centenas de quilômetros contra a corrente, com um único objetivo....sexo, claro. Mas também....vida".

quarta-feira, 15 de junho de 2011

No caminho, com Maiakóvski

Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu,
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amendrontado,
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - mentira!

Mais sobre Eduardo Alves da Costa no link:

terça-feira, 14 de junho de 2011

Sobre Lou Andreas Salomé

Lou Andreas Salomé chegou a Viena para estudar psicanálise no dia 25 de outubro de 1912. Tinha 51 anos, era uma mulher marcante, esplendidamente feminina, de cabelos grossos e ondulados e olhos claros, azuis. Fotografias da época mostram-na envolta em vastas peles: parece audaciosa, orgulhosa, confiante, mas tmbém estranhamente inocente, crédula. A fama de ser uma das maiores femmes fatales da Europa Central cai sobre Lou com leveza: não há nela nada previamente ensaiado. Tampouco há qualquer coisa que possa sugerir a seriedade de uma intelectual firme e independeente ou rastros de uma formação filosófica rigorosa. Lou é simplesmente, totalmente, Lou. As fofocas contemporâneas e a história pintam-na como uma mulher de vários homens - Nietzsche, Rilke, Freud, às vezes até o próprio marido -, mas a única certeza a respeito de Lou é de que ela foi, primeiro e principalmente, fiel a si mesma.
(...) Frau Lou, prolífica, muito viajada e vastamente versada, também era conhecida pelo seu estudo As heroínas de Ibsen e pela primeira monografia sobre Friedrich Nietzsche, o filósofo "que significava uma nobreza que eu não podia atingir" para o jovem Freud, e cujo pensamento era tão rico - e, imagina-se, tão próximo ao de Freud - que ele renunciou à tentativa de ler em detalhes um pensador que "tinha um conhecimento mais penetrante sobre si mesmo do que qualquer homem que já tenha vivido".
(...) Freud viu o interesse de Lou pela psicanálise como um "bom presságio". No necrológio que lhe dedicou, declarou com firmeza: "Não estarei dizendo demais se reconhecer que todos nós sentimos como uma honra quando ela se juntou às fileiras de nossos colaboradores e companheiros de armas, e, ao mesmo tempo, como uma nova garantia da verdadedas teorias da análise".
(...) Karl Abraham é o primeiro a anunciar, em carta de 28 de abril de 1912, recomendando Lou a Freud: "Nunca conheci ninguém com um entendimento tão profundo e tão sutil da psicanálise".
(...) Lou foi, decididamente, uma pessoa "soberana" numa época em que isso não era fácil. Uma "mulher notável", como disse Freud em seu necrológio, e destituída de "todas as fraquezas femininas e talvez da maioria das fraquezas humanas". Ela era feliz por ser mulher e, no meio de todos os seus homens preeminentes, via as mulheres como o sexo superior e mais alegre. Tanto homens quanto mulheres eram atraídos por ela, admiravam-na, viam suas próprias idéias refletidas no espelho sutil e sensível que era a mente dela, amavam-na e permaneciam seus amigos. Ainda que Lou nunca tenha se entregado, tinha o dom de identificar--se com aquilo que seus amantes e amigos possuíam de mais caro e de servir de apoio quando era necessário. Neste sentido, era uma excelente psicóloga. Nietzsche dizia que ela era "astuta como uma águia e corajosa como um leão, mas, ainda sim, uma garotinha muito feminina". Anna Freud observou que "o que havia de incomum nela era, na verdade, o que deveria ser comum em um ser humano - honestidade, retidão, ausência de qualquer fraqueza, autoafirmação sem egoísmo".
Lou com Rilke
O retrato pintado por Rilke é talvez o mais evocativo:
Essa mulher possui a habilidade de penetrar nas coisas mais maravilhosas, mais esplêndidas; ela transforma, no momentocerto, tudo aquilo que os livros e as pessoas lhe trazem, na mais abençoada compreensão; ela entende, ama e se move, sem medo, entre os mistérios mais ardentes. Estes não lhe causam nada, apenas brilham para ela com a mais pura chama. Eu não conheço ninguém - e desde os longínquos anos em que ela me conheceu e trouxe um significado infinito para minha vida, nunca soube de nenhuma outra pessoa - que tenha a vida de tal forma do seu lado (...).
A vida de Lou - uma vida que tem todas as inflexões de um grande romance - começou em 12 de fevereiro de 1861 em São Petersburgo, capital da Rússia imperial, onde seu pai, um alemão báltico descendente de huguenotes, era um general que frequentava elevados círculos aristocráticos. Sua mãe, Louise, já tinha dado à luz cinco filhos, e a chegada da pequena Louise von Salomé, ou Lyolya - apenas três semanas antes da emancipação dos servos - no suntuoso apartamento da família, no edifício do Estado-Maior geral, em frente ao Palácio de Inverno, foi motivo para numerosas felicitações, inclusive uma mensagem do czar.
(...) Em todos os seus dias, Lou nunca deixou de sentir que a vida, com todos os seus horrores, era generosa e benéfica; que algum poder benigno emanado do paraíso da primeira infância velava por ela. E foi sempre grata.
É esse conjunto de intuições e atitudes que molda, mais tarde, sua compreensão da feminilidade e no narcisismo feminino como força positiva. Para Lou, o feminino, em sua essência, faz parte de uma "fusão primordial com o Todo em que repousamos".
(...) A infância em São Petersburgo incutiu em Lou o sentimento de ser especial. Ela era distinta pela riqueza, classe e nacionalidade. Em sua casa, falava-se mais alemão e francês do que russo; a religião da família era um protestantismo pietista, não a ortodoxia russa comum, que sua mãe considerava incivilizada. Ao contrário de Kafka, por exemplo, cujo sentimento de diferença resultava em um profundo senso de alienação, para Lou, ser diferente envolvia a boa sorte de ser especial e fazia com que ela valorizasse tudo o que se distinguisse pela intensidade ou pela excelência de sentir e de pensar. A noção de "lar" era tão enraizada nela, que mesmo que não fosse aqui, era em outro lugar, ao qual ela pertencia. Essa sensação de pertinência ao mundo era o que lhe permitia desprezar as convenções e embarcar no que foi uma trajetória singular para a sua época - na verdade, para qualquer época.
(...) A despeito de seus amados irmãos e pais, Lou era uma criança solitária, introvertida, para quem a fantasia e o devaneio adquiriram um caráter muito particular de realidade, que com frequência sobrepujou acontecimentos compartilhados com os outros. Ela criava histórias complexas a respeito dos transeuntes nas ruas de São Petersburgo. Quando, com o passar dos anos, esses intricados enredos ficaram longos demais para a sua memória, começou a escrever as inuciosas histórias dos habitantes de seu mundo inventado. No início, essa esfera onírica era tingida pelo "fino brilho" de sua inquestionável fé em Deus, um Deus que era sua mais antiga lembrança e que existia secretamente apenas para ela. Lou lhe contava tudo, e ele ouvia tão bem que ela supôs a existência de um diálogo, sem jamaisquestionar sua inaudibilidade ou invisibilidade. Mas um dia ela pediu uma resposta, que não veio. Deus e a sua crença sumiram ao mesmo tempo. Essa perda de fé foi tão crucial que Lou faz do episódio a experiência originária de suas memórias.
Em um frio dia de inverno, um criado da casa de campo da família disse a Lou que vira um casal parado em frente à sua casinha de brinquedo, desejando entrar. Lou ficou preocupada com eles, com medo de que passassem frio e fome. Na visita seguinte do criado a São Petersburgo, ela perguntou aonde tinha ido o casal. Ele disse que não tinham ido embora, mas simplesmente ficaram mais e mais magros, até que desapareceram, e uma manhã, quando ele estava varrendo o chão, encontrou apenas vestígios deles, botões, um chapéu e lágrimas congeladas.
Lou ficou arrasada com o que um adulto chamaria de sensação de insubstancialidade das coisas, de efemeridade da vida. Ela exigiu uma explicação de Deus, uma simples afirmação. Dizer que era um casal de bonecos de neve bastaria. Mas nada aconteceu. A descrença a invadiu. O Deus que a abrigava, que fundia pai e mãe e guardava nos bolsos todos os dons do mundo, derreteu-se. E junto com esse desaparecimento veio uma tristeza árida, um desanimador peso de responsabilidade pela sua própria imaginação.
Mais tarde, Lou afirmou que a perda da fé em idade tão tenra - antes que a dúvida racional fosse possível - fez com que ela fosse capaz de manter, para sempre, um sentimento infantil de fé sem a necessidade de ter um objeto de fé equivalente. Decerto a autosuficiência incomumente generosa que ela demonstrou ao longo de toda a vida, uma postura que expressou em suas idéias sobre o narcisismo, é uma prova de sua própria interpretação.
A história que conta sobre os primeiros contatos travados com o espelho ajuda a entender esse aspecto de sua personalidade. Ela era criança quando viu o próprio reflexo e ficou espantada ao descobrir que era apenas aquilo que estava vendo: um ser confinado a limites estreitos e impedido de existir em outros objetos. Longe do espelho, recusava essa falta de extensão. A sensação de que o físico não era uma fronteira intransponível, de que o vísivel e material não definiam os limites do eu ou da imaginação, de que não havia brechas invioláveis entre o eu e o outro persistiu por toda a sua vida. Lou tinha uma "solidariedade com o destino de tudo" que existe, grande ou pequeno. Tempos depois, identificou esse sentimento com o feminino que havia nela, uma ênfase que transcendia o ímpeto masculino à razão, que separava e dividia.

(In: As mulheres de Freud. Lisa Appignanesi & John Forrester. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.369-374).

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Fragmento I

"Quando converso sobre algo que li, é como se a idéia transfigurada em letras ganhasse um corpo em que corre sangue, e uma alma que padece o sofrer.
Humanizando o concreto com o verbo fica difícil esquecer, pois não há como ignorar o que é vivo, a menos que a mente tenha uma boa razão para tal.
O que é vivo cresce, transmuta, ganha novas configurações.
Eu existo no outro. O outro existe em mim. Existimos no desejo do que nos falta.
O desejo alimenta a busca do que não se nomeia, verdade do inconsciente - que se estrutura no entre-dois".


Dize-me: tu és mais alguma coisa - Alberto Caeiro

Dize-me: tu és mais alguma coisa
Que uma pedra ou uma planta.
Dize-me: sente, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm idéias sobre o mundo?

Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teoria sobre as coisas:
só me obriga a ser consciente.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei qque é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

Sei que a pedra é real, sei que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.

Sim, escrevo versos, e a pedra não escre versos.
Sim, faço idéias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, "é uma pedra",
Digo da planta, "é uma planta",
Digo de mim, "sou eu".
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?
(5-6-1922 - Poemas Inconjuntos - In: Poemas de Alberto Caeiro. Lisboa: Ática, 1946).

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Realidade, hipocrisia e revolta - Francisco Medeiros Quarta

Trotsky & Frida, em "Diário de Trotsky no exílio".

Sacia em mim a tua cupidez!
Por que morrer à fome, se há comida?
Penetra-me, com ânsia, tanta vez
Que eu parta, satisfeita, dessa vida!

Destrói em mim os mitos da pureza
Que eu ganho em conservar a virgindade?
Tolice é recusar-me à natureza
Fingir o que não sinto, é falsidade!

Beija-me; enlaça enfim, como quiseres,
Teu corpo ao meu; mas vem sem hesitar,
Sou apenas uma, entre as mulheres
Que vê inutilmente o tempo passar...

Não me contento só com galanteios;
Ultrapassei as horas da recusa.
Tortura, com delírio, estes meus seios;
Saiba que a timidez, já não se usa.

Se ao homem tudo é lícito e banal,
Hei de esmagar tamanha servidão!
Qualquer matéria humana é sempre igual:
Faça o que me aprouver: ou sim, ou não!

Acalma-te mulher, não te endoideças.
Não irás resolver a vida assim!
Atende o meu aviso, e não te esqueças:
Nada é eterno, tudo chega ao fim...

Não sujes o seu nome, com más famas,
Nas ilusões fictícias do prazer!
É falsa a liberdade que reclamas:
Nunca podes vencer, porque és mulher...

Todas te olhavam, como protituta:
Só terias desprezo, em vez de amor!
Julgas-te agora forte e resoluta;
Mas...não suportarias tanta dor!...

Os homens vencem sempre, minha amiga:
Pintam a manta, e nada lhes sucede!
Cai na miséria qualquer rapariga
Que cede a tudo quanto se lhe pede.

Podem vir filhos, fome, privações,
Lágrimas sem remédio do mal feito!
Perde-se tudo; surgem decepções,
A cada passo, e já não há respeito!

Não praticarás tu religião?...
Olha que essas loucuras são pecados.
Dominemo-nos pois, pondo travão
Aos nossos ímpetos desenfreados!

Oh, homem, eu detesto os moralistas!
Já passaram da moda, sabes bem.
Palavras muito lindas, dão nas vistas,
Mas não enchem a barriga, sem vintém!

Por que não me hei então de manifestar?
Dizer tudo o que eu sinto, livremente?
Dos meus desejos, não me vou privar!
Não dou satisfações a essa gente!

Cada ser vivo tem necessidades:
Comer, vestir, e partilhar carinho!
Quem procura esconder estas verdades,
Oprime, cada um, no seu caminho...

Dar conselhos inspira simpatia;
Pode até iludir os inocentes.
Quantos deles são vil hipocrisia,
Dados pelos mais pulhas delinquentes!

Há paradoxos na religião,
Que enganam muito mais do que esclarecem,
Vegeta nela cada santarrão...
Simulam servir Deus, mas enriquecem!

Se Cristo nasceu numa estrebaria,
Viverão os cristãos em humildade?!
É vê-los, cada um, no dia-a-dia,
Enganando o parceiro. Em caridade.

Tenho vivido muito revoltada!
Sou pobre, e vou gritar: Independência!
Se não puder amar e ser amada,
Altiva, enfrentarei a decadência!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Um curta de Jean-Luc Godard

Curta-metragem de Godard exibido no Seminário: Revoluções, uma política do sensível, realizado em SP, no SESC Pinheiros, em 20/05/11.

"De certa forma, medo é a filha de Deus, redimida na noite de sexta-feira santa. Ela não é bela, é zombada, amaldiçoada e renegada por todos. Mas não entenda mal, ela cuida de toda agonia mortal, ela intercede pela humanidade.
Pois há uma regra e uma exceção. Cultura é a regra. E arte a exceção. Todos falam a regra: cigarro, computador, camisetas, TV, turismo, guerra. Ninguém fala a exceção. Ela não é dita, é escrita: Flaubert, Dostoyevski. É composta: Gershwin, Mozart. É pintada: Cézanne, Vermeer. É filmada: Antonioni, Vigo. Ou é vivida, e se torna a arte de viver: Srebenica, Mostar, Sarajevo. A regra quer a morte da exceção. Então a regra para a Europa Cultural é organizar a morte da arte de viver, que ainda floresce.
Quando for hora de fechar o livro, Eu não terei arrependimentos. Eu vi tantos viverem tão mal, e tantos morrerem tão bem."

sábado, 7 de maio de 2011

Oportunidade - Freud

"Nunca se deve desprezar uma oportunidade mas sempre tomar o que se pode, mesmo quando isso implica em praticar um pequeno delito. Nunca se deve desprezar uma oportunidade, já que a vida é curta, e a morte, inevitável".
(In: A Interpretação dos sonhos).

quarta-feira, 4 de maio de 2011

A psicanálise & as ciências - Lacan

"A psicanálise (...) é uma disciplina que no conjunto das ciências se apresenta a nós com uma posição realmente particular. Costumam dizer que ela não é uma ciência propriamente dita, o que parece implicar por contraste que ela é simplesmente uma arte. É um erro, se por isso entendermos que ela é tão-somente uma técnica, um método operacional, um conjunto de receitas. Mas não é um erro se empregarmos essa palavra, "arte", no sentido em que era empregada na Idade Média quando se falava das artes liberais - vocês conhecem a série que vai da astronomia à dialética, passando pela aritmética, a geometria, a música e a gramática.
É-nos certamentedifícil apreender hoje, dessas artes ditas liberais, a função e o alcance na vida e no pensamento dos mestres medievais. No entanto, é certo que o que as caracteriza e distingue das ciências que delas teriam se originado é que conservam em primeiro plano o que se pode chamar uma relação fundamental com a medida do homem. Pois bem, a psicanálise talvez seja atualmente a única disciplina comparável a essas artes liberais, pelo que preserva dessa relação de medida do homem consigo mesmo - relação interna, fechada sobre si mesma, inesgotável, cíclica, que o uso da fala comporta por excelência.
(In: O mito individual do neurótico. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p.11-2).

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Bispo - Arthur Bispo do Rosário por Fernando Gabeira



Documentário em torno de Artur Bispo do Rosário, artista plástico, interno na Colônia Juliano Moreira. O vídeo registra a visão de mundo de Bispo e os seu trabalho - tapeçarias, bordados, colagens, instalações e pinturas - realizado ao longo de 7 anos, período em que se manteve recluso em seu quarto na Colônia. Parte da série "video-cartas", realizadas por Fernando Gabeira na década de 1980.

domingo, 24 de abril de 2011

Diálogos do impossível - Psicanálise & Filosofia no filme Waking Life

"Já é ruim vender a sua vida consciente por salário mínimo, mas estão ficando com os seus sonhos de graça".
*
"O truque é combinar as habilidades racionais conscientes com as infinitas possibilidades do sonho. Se puder fazer isso, fará qualquer coisa".
*
"Tornar-se lúcido é saber que se está sonhando?".
"Os paradoxos me incomodam e posso aprender a amar...e fazer amor com os paradoxos que me incomodam. E, em noites românticas do eu...vou dançar com a minha confusão".
*
"D.H. Lawrence imaginava duas pessoas que se conhecem e resolvem aceitar a chamada confrontação entre as suas almas. É como liberar os corajosos deuses imprudentes em nós".

Diálogos do impossível - Lacan & Nietzsche em Godard

"O outro está no um, o um está no outro".
*
"É preciso saber dizer nós para saber dizer eu".
*
"Pobres coisas, só possuem os nomes que lhe impomos".
*
"Reflita sobre aquilo que você está lutando, pois você pode conseguí-lo".
*
"Uma vez encontrei o nada (...). Ele é mais magro do que imaginamos".
*
"Incluo entre os meus amigos os que desaprovam as minhas ações, mas não desaprovam minha existência".

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora - Alberto Caeiro

Dizem que em cada coisa uma coisa oculta mora.

Sim, é ela própria, a coisa sem ser oculta,
Que mora nela.
Mas eu, com consciência e sensações e pensamento,
Serei como uma coisa?
Que há a mais ou a menos em mim?
Seria bom e feliz se eu fosse só o meu corpo -
Mas sou também outra coisa, mais ou menos que só isso.
Que coisa a mais ou a menos é que eu sou?
O vento sopra sem saber.
A planta vive sem saber.
Eu também vivo sem saber, mas sei que vivo.
Mas saberei que vivo, ou só saberei que o sei?
Nasço, vivo, morro por um destino em que não mando,
Sinto, penso, movo-me por uma força exterior a mim.
Então quem sou eu?
Sou, corpo e alma, o exterior de um interior qualquer?
Ou a minha alma é a consciência que a força universal
Tem do meu corpo por dentro, ser diferente dos outros?
No meio de tudo onde estou eu?
Morto o meu corpo,
Desfeito o meu cérebro,
Em coisa abstracta, impessoal, sem forma,
Já não sente o eu que eu tenho,
Já não pensa com o meu cérebro os pensamentos que eu sinto meus,
Já não move pela minha vontade as minhas mãos que eu movo.
Cessarei assim? Não sei.
Se tiver de cessar assim, ter pena de assim cessar,
Não me tomará imortal.
Escrito em 05/06/1922

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Discurso final de "O grande ditador" - Chaplin

Em homenagem ao 122* aniversário de Chaplin...
Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar todos, se possível, judeus, gentios… negros… brancos.Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo, não para o seu infortúnio. Por que temos de nos odiar e desprezar uns aos outros?
Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém, desviamo-nos dele. A cobiça envenenou a alma dos homens… levantou no mundo as muralhas do ódio… e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios.
Criamos a época da produção veloz, mas sentimo-nos enclausurados dentro dela.
A máquina, que produz em grande escala, tem provocado a escassez. Os nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; a nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que máquinas, precisamos de humanidade; mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura! Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido.
 

O jovem Freud escreve para sua amada...Martha

"Você crê em presságios? Como aprendi que ver pela primeira vez uma menina sentada a uma longa mesa bem conhecida e falando de modo tão inteligente enquanto descascava uma maçã com seus dedos delicados podia desconcertar-me de forma tão duradoura, realmente me tornei muito supersticioso" (26/06/1885).
*
"A solução para o quebra-cabeças é a seguinte: apenas dentro da lógica as contradições são incapazes de coexistir; nos sentimentos, elas prosseguem contentes lado a lado. Argumentar como Fritz é negar metade da vida" (08/07/1882).
*
"Haveria um prejuízo horrível para nós ambos se eu osse forçado a decidir amar você como uma namorada querida, porém não como uma igual, alguém de quem eu tivesse que ocultar meus pensamentos e opiniões - em resumo, a verdade"(25/09/1882).
*
"Você (...) escreve de modo tão inteligente e certeiro que eu tenho um pouco de medo de você. Acho que tudo leva a mostrar, mais uma vez, como as mulheres rapidamente passam à frente dos homens. Bom, não vou perder nada com isso" (06/10/1883).
*
"Vamos servir de modelo para as gerações futuras de amantes, e apenas porque tivemos a coragem de gostarmos um do outro sem pedir permissão a ninguém. (...) Somos como as pessoas que andam na corda bamba ou sobem em mastros e que recebem aplausos de qualquer público, ainda que o mesmo público ficasse muito triste caso visse seus filhos ou filhas fazendo a mesma coisa em vez de usar uma escada ou permanecer confortavelmente embaixo" (06/01/1886).
*
"Não se deve ser mesquinho com o afeto; o que se gasta das reservas é renovado pelo próprio ato de gastar" (18/08/1882).
(In: As mulheres de Freud. Lisa Appignanesi & John Forrester. São Paulo: Record, 2010. p.67-84).

segunda-feira, 11 de abril de 2011

La vie en rose - Edith Piaf (tradução)

Olhos que fazem baixar os meus
Um riso que se perde em sua boca
Ai está o retrato sem retoque
Do Homem a quem eu pertenço
Quando ele me toma em seus braços
ele me fala baixinho
Vejo a vida cor-de-rosa
Ele me diz palavras de amor
Palavras de todos os dias
E isso me toca
Entrou no meu coração
Um pouco de felicidade
Da qual eu conheço a causa
É ele pra mim,eu pra ele na vida,
Ele me disse, jurou pela vida.
E assim que eu o vejo
Então sinto em mim
Meu coração que bate
Noites de amor que não acabam mais
Uma grande felicidade que toma seu lugar
Os aborrecimentos e as tristezas se apagam
Feliz, feliz até morrer
Download da música disponível no link: