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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Retorno á questão judaica - Elisabeth Roudinesco (trecho)

 
"Quando Báal Shem Tov tinha uma tarefa difícil para cumprir, ia para certo local na floresta, acendia uma fogueira e mergulhava numa oração silenciosa; e o que ele tinha para cumprir se realizava. Quando, uma geração depois, o Maguid de Meseritz se viu confrontado com a mesma tarefa, foi para aquele mesmo local na floresta e disse:" Já não sabemos acender a fogueira, mas ainda sabemos dizer a oração". E o que ele tinha para cumprir se realizou. Uma geração depois, Rabi Moshe ...Leib de Sassov teve de cumprir a mesma tarefa. Também ele foi para a floresta e disse: "Já não sabemos acender a fogueira, já não conhecemos os mistérios da oração, mas ainda conhecemos o local preciso da floresta onde aquilo acontecia, e isso deve bastar". E bastou. Mas quando outra geração passou e o Rabi Israel de Rishin teve de enfrentar a mesma tarefa, ficou em casa sentado na sua poltrona e disse: "Já não sabemos acender a fogueira, já não sabemos dizer as orações, já nem conhecemos o local na floresta, mas ainda sabemos contar a história". E a história que ele contou teve o mesmo efeito que as práticas de seus predecessores.
Para além do hassidismo, esse episódio revela o que é o pertencimento identitário vivido pelos judeus...definido como um "resto" e como um "lembra-te!".
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(Elisabeth Roudinesco. Retorno à questão judaica. Rio de Janeiro: Zahar, 2010, p.21)

Frankenweenie - (trecho)

"- Você deveria ser cientista.
- Ninguém gosta de cientistas.
- Eles gostam do que a ciência nos dá, mas não das perguntas que ela faz.
- Eu tenho uma pergunta.
- Haaaaaa.....é por isso que você é um cientista.
- Eu estava fazendo meu projeto. E da primeira vez deu super certo. Mas da segunda vez não. Tipo, meio que funcionou, mas não deu, e eu não sei o porquê.
- Talvez não tenha entendido direito da primeira vez. As pessoas acham que a ciência está aqui [na mente], mas ela também está aqui dentro [do coração]. Na primeira vez, amava seu experimento?
- Amava.
- E na segunda?
- Não, só queria terminar logo.
- Então você mudou as variáveis".
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Trailer do filme disponível no youtube:
 


sábado, 9 de fevereiro de 2013

O Diário de Frida Kahlo - (trechos)

 
Durante os últimos dez anos de vida, a artista mexicana Frida Kahlo manteve um diário em que documentou sua luta política, reflexões da vida conturbada e dores pessoais, além do amor pelo marido, o muralista Diego Rivera.
As pinceladas coloridas e manuscritos poéticos da artista podem ser apreciados pelo público na reedição de “O Diário de Frida Kahlo – Um Autorretrato Íntimo”, uma reprodução fiel de todo o material produzido entre 1944 a 1954.
Sucesso em todo o mundo, o livro foi publicado no Brasil pela editora José Olympio em 1994. Depois de anos fora do catálogo, está de volta às livrarias em edição capa dura, com apresentação do crítico de arte Frederico de Moraes.
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Abaixo, algumas páginas do diário. Para visualiza-las em tamanho ampliado, basta clicar sobre a imagem:
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"Mas, como lhe explico a minha necessidade enorme de ternura! A minha solidão de anos.
A minha estrutura deformada devido à sua carência de harmonia, a sua inaptidão" - (pg. 126 do diário).
 
 


domingo, 27 de janeiro de 2013

A origem da vida - filme (trecho)

 
- Eu queria saber se você está bem.
- Vamos deixar uma coisa bem clara. Nunca vou ficar bem. Certo? Sou um caso perdido. Uma aberração, como você. Não esquenta. Acho que ser uma aberração é meio legal.
- É?
- É melhor do que ser uma ovelha como o resto deles. Por que todo mundo quer ser como todo mundo?
 
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Trailer do filme disponível no youtube:


sábado, 26 de janeiro de 2013

Para Roma com amor - Woody Allen (trecho).

 
"-Sim, ele é legal.
-Sexy, como você disse para a Sally.
-Ouça, é o vinho que vai falar. Ele não é uma pessoa emotiva. Não é um sofredor.
- O que há de tão bom em sofrer?
-Há algo de atraente num homem sensível às agonias da existência".
 
 
Trailer do filme no youtube:
 


N* 113 - Walter Benjamin


"Esquecemos há muito tempo o ritual sob o qual foi edificada a casa da nossa vida. Quando, porém, ela está para ser assaltada e as bombas inimigas já a atingem, que extenuadas, extravagantes antiguidades elas não poem a nu ali nos fundamentos! Quanta coisa não foi enterrada e sacrificada sob fórmulas mágicas, que apavorante gabinete de raridades há embaixo, onde, para o mais cotidiano, estão reservadas as valas mais profundas. Em uma noite de desespero eu me vi em um sonho re...novar tempestuosamente amizade e fraternidade com o primeiro companheiro de meu tempo de escola, que já há decênios não conheço mais e de que mesmo nesse instante mal me lembrava. Ao despertar, porém, ficou claro para mim: o que o desespero, como uma explosão, tinha exposto à luz do dia, era o cadáver desse homem, que estava emparedado lá, parecendo dizer: quem mora aqui agora não deve assemelhar-se a ele em nada" -
(Walter Benjamin. Rua de Mão Única. São Paulo: Brasiliense, 1987, p.12-3).



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Água de beber - Tom Jobim

Hoje é aniversário do maestro & poeta Tom Jobim  (Rio de Janeiro, 25 de janeiro de 1927Nova Iorque, 8 de dezembro de 1994).

"Eu quis amar, mas tive medo
E quis salvar meu coração
Mas o amor sabe um segredo
O medo pode matar o seu coração
Água de beber
Água de beber camará
Água de beber
Água de beber camará
Eu nunca fiz coisa tão certa
Entrei pra escola do perdão
A minha casa vive aberta
Abri todas as portas do coração
Água de beber
Água de beber camará
Água de beber
Água de beber camará
Eu sempre tive uma certeza
Que só me deu desilusão
É que o amor é uma tristeza
Muita mágoa demais para um coração
Água de beber
Água de beber camará
Água de beber
Água de beber camará...".
*
Documentário e entrevista - Tom Jobim no bar Academia, disponível no youtube:


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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Maysa por Manuel Bandeira

Hoje completam 36 anos sem a diva (1936-1977)
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"Um dia pensei um poema para Maysa
Maysa não é isso
Maysa não é aquilo
Como é então que Maysa me comove me sacode me buleversa me hipnotiza?
Muito simplesmente
Maysa não é isso mas Maysa tem aquilo
Maysa não é aquilo mas Maysa tem isto
Os olhos de Maysa são dois não sei quê dois não sei como diga dois Oceanos Não-Pacíficos
A boca de Maysa é isto isso e aquilo
Quem fala mais em Maysa a boca ou os olhos?
Os olhos e a boca de Maysa se entendem os olhos dizem uma coisa e a boca de Maysa se condói se contrai se contorce como a ostra viva em que se pingou uma gota de limão
A boca de Maysa escanteia e os olhos de Maysa ficam sérios
Meu Deus como os olhos de Maysa podem ser sérios e como a boca de Maysa pode ser amarga!
Boca da noite (mas de repente alvorece num sorriso infantil e nefano)”
Cacei imagens delirantes
Maysa podia não gostar
Cassei o poema.
Maysa reapareceu depois de longa ausência
Maysa emagreceu
Está melhor assim?
Nem melhor nem pior
Maysa não é um corpo
Maysa são dois olhos e uma boca
Essa é a Maysa da televisão
A Maysa que canta
A outra eu não conheço não
Não conheço de todo
Mas mando um beijo para ela"
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Documentário Maysa em Maricá, produzido pela Tv Cultura disponível no youtube:




sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Balanço final - Simone de Beauvoir (II)

"Resumo em mim a herança terrestre e o estado do universo neste instante. Todo bom biógrafo sabe que, para que conheçam seu herói, ele deve inicialmente evocar a época, a civilização, a sciedade à qual aquele pertence - e também remontar o mais longe possível a cadeia de seus ascendentes. A soma de tais informações é, no entanto, ínfima se a confrontarmos com a inesgotável multiplicidade de relações que cada elemento de uma existência mantém com o Todo. Cada um tem, além disso, uma significação diferente, quer o consideremos sob um ponto de vista ou sob outro. Este fato: 'nasci em Paris' não representa a mesma coisa aos olhos de um parisiense, de um provinciano, de um estrangeiro. Sua aparente simplicidade se dispersa através dos milhões de indivíduos que mantêm relações diversas com a cidade de Paris.
E, no entanto, uma vida é também uma realidade finita. Tem um centro de interiorização, um eu que, através de todos os momentos, se coloca como idêntico (...). Não se pode captar e cingir uma vida como se capta e cinge uma coisa (...). Mas podemos fazer-nos algumas perguntas a seu respeito: como se faz uma vida? qual é nela a contribuição das circunstâncias, da necessidade, do acaso, das escolhas e das iniciativas do sujeito?"
(In. Balanço Final. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1972, p.10).


segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Balanço final - Simone de Beauvoir

Cada manhã, antes mesmo de abrir os olhos, reconheço minha cama, meu quarto. Mas se durmo à tarde, em meu estúdio, experimento às vezes, ao acordar, um espanto pueril: por que sou eu? O que me surpreende - como à criança quando toma consciência de sua própria identidade - é o fato de encontrar-me aqui, agora, dentro desta vida e não de outra: por que acaso? Se a considero do exterior, em primeiro lugar parece inacreditável que eu tenha nascido. A penetração de um determinado óvulo por um determinado espermtozóide, implicando o encontro e o nascimento de meus pais e de todos os seus ancestrais, não tinha uma chance entre milhares de ocorrer. Foi um acaso, conforme o estado atual da ciência, totalmente imprevisível, que me fez nascer mulher. Depois, para cada instante de meu passado mil futuros diferentes me parecem concebíveis: adoecer e interromper meus estudos; não conhecer Sartre; qualquer outra coisa.
Jogada no mundo, fui submetida a suas leis e a seus acidentes, dependendo de vontades alheias, de circunstâncias, da história: estou, portanto, justificada por sentir minha contingência; o que me atordoa é que ao mesmo tempo não o estou. O problema não existiria se eu não tivesse nascido: tenho que partir do fato que existo. E, certamente, o futuro daquela que fui podia fazer-me diferente do que sou. Mas então seria essa outra quem se interrogaria sobre si mesma. Para aquela que diz: eis-me, não há conciliação possível. No entanto, essa necessária coincidência do sujeito com sua história não é suficiente para dissipar minha perplexidade. Minha vida: familiar e distante, ela me define e eu sou exterior a ela. O que é exatamente esse objeto bizarro?
(In: Balanço final. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1972, p. 9)



segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

O livro dos prazeres - Clarice Lispector (II)

"Por mais intransmissível que fossem os humanos, eles sempre tentavam se comunicar através de gestos, de gaguejos, de palavras malditas e mal ditas" 

(Clarice Lispector. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 36).

domingo, 2 de dezembro de 2012

O livro dos prazeres - Clarice Lispector (I)

 
"Mas o seu descompasso com o mundo chegava a ser cômico de tão grande: não conseguira acertar o passo com as coisas ao seu redor. Ja tentara se pôr a par do mundo e tornara-se apenas engraçado: uma das pernas sempre curta demais. (O paradoxo é que deveria aceitar de bom grado essa condição de manca, porque também isto fazia parte de sua condição.) (Só quando queria andar certo com o mundo é que se estraçalhava e se espantava.) E de repente sorriu para si própria com um sorriso amargo, mas que não era mau porque também ele era sua condição" -
 
 (Clarice Lispector. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p.20).


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Hypátia de Alexandria

"Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Téon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos da época. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe receber os ensinamentos. Com um grande auto-controle e descontração, que obteve como consequência do cultivo da sua mente, não raras vezes aparecia em público, na presença dos magistrados. Nem se coibia de comparecer numa assembléia de homens. Pois todos os homens a admiravam ainda mais devido à sua extraordinária dignidade e virtude. Mas até ela foi vítima da inveja política que ao tempo prevalecia. Ao manter diálogos frequentes com Orestes, foi caluniosamente relatado entre a população cristã que era ela que impedia Orestes de se reconciliar com o bispo. Por causa do zelo fanático de alguns deles, liderados por Pedro, o leitor, Hipátia foi arrancada da sua carruagem, quando voltava para casa, e foi arrastada até a igreja chamada Caesareum, onde lhe rasgaram as roupas e a mataram com ostras e pedaços de cerâmica. Depois de terem desmembrado o seu corpo, levaram os membros mutilados para um local chamado Cinaron e os queimaram. Este assunto trouxe não pequeno opróbrio quer a Cirilo, quer a toda a Igreja Alexandrina. E certamente que nada poderá estar mais distante do espírito do Cristianismo que a permissão de massacres, lutas e acontecimentos de tal ordem. Isto aconteceu no mês de Março, durante a Quaresma, durante o quarto ano do episcopado de Cirilo, sob o décimo consulado de Honório e o sexto de Teodósio."
 
 
Mais sobre Hypátia em:
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"Cinésio, você não questiona a sua crença, você não pode. Eu devo" -
(Trecho do filme Ágora - no Brasil Alexandria - que retrata a vida de Hypátia).
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Trailer do filme:

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Eterna mágoa - Augusto dos Anjos

 "O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do Mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!
Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.
Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda
Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!".
 
Mais sobre Augusto dos Anjos em: