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quinta-feira, 14 de junho de 2018

Em 1920 Freud se posicionou a respeito do aborto:



Em 25 de Janeiro de 1920 Sophie Freud, de 26 anos, morreu em um hospital de Hamburgo, onde se suspeita que ela ingressou por conta de um aborto mal praticado.
Em 15 de fevereiro do mesmo ano Sigmund Freud enviou uma carta a Arthur Lippman, médico que atendera a Sophie:
*
"Estimado colega.
Le agradezco enormemente su detallado informe de la enfermedad. Por certo, jamás dudé de que usted y el resto de los médicos omitieram nada que hubiese podido contribuir a la recuperación o a mejória de mi hija. Los detalles que me brinda satisfacenenteramente el imperativo médico de lo forzoso e inevitable,es evidente que el caso estaba perdido desde el comienzo.
Lo que me resultó novedoso fue el dato de que el embarazohubiera modificadoa tal punto su estado físico y mental em um sentido desfavorable. Es probable que ya no se pueda evaluar em que medida su falta de resistência a la infección pudo deberse al desmejoramiento de su estado.
Pero el infeliz destino corrido por mi hija me parece albergar em outro aspecto uma advertência que nuestro grêmio no suele tomar muy em serio. En vista de uma ley necia e inhumana que obliga a continuar com el embarazo aun a mujeres que no lo desean, se torna evidente que el médico tiene el deber de indicar los médios adecuados e inócuos para prevenir embarazos (matrimoniales) no deseados.
Mi hija habló conmigo de este tema la última vez que estuve com ella el 19 de sept, ya que ambos jóvenes sufrían intensamente las limitaciones que se habían impuesto. No pude más que indicarle que acudiera al ginecólogo para obtener um pesario oclusivo intrauterino. Pero es evidente que algo salió mal. Espero que estas experiências sirvanpara que los ginecólogos reconozcan cada vez com mayor claridade la imporancia de la tarea que les compete.
Le agradezco sinceramente, estimado colega, las moléstias y sus condolências.
Su fiel
Freud".
(In. Freud. Cartas a sus hijos. Buenos Aires: Paidós, 2012, pp.605-606).


Saiba mais:




sexta-feira, 25 de maio de 2018

Lacan, o libertador da Psicanálise - por Foucault


Lacan. il `libertatore’ della psicanalisi" ["Lacan, o `libertador da psicanálise"; entrevista com J.Nobécourt; trad. A. Ghizzardi), Correre della sera vol. 106. n°212, 11 de setembro de 1981, p. 1.

     - Tem-se o hábito de dizer que Lacan foi o protagonista de uma "revolução da psicanálise". O senhor acha que esta definição de "revolucionário" é exata e aceitável?
     -Acho que Lacan teria recusado este termo de "revolucionário" e a própria idéia de uma "revolução em psicanálise". Ele queria apenas ser "psicanalista". Isso supunha, aos seus olhos, uma ruptura violenta com tudo o que tendia a fazer depender a psicanálise da psiquiatria, ou a fazer dela um capítulo sofisticado da psicologia. Ele queria subtrair a psicanálise da proximidade da medicina e das instituições médicas, que considerava perigosa. Ele buscava na psicanálise não um processo de normalização dos comportamentos, mas uma teoria do sujeito. Por isso é que, apesar de uma aparéncia de discurso extremamente especulativo, seu pensamento não é estranho a todos os esforços que foram feitos para recolocar em questão as práticas da medicina mental.

- Se Lacan, como o senhor disse, não foi um "revolucionário", é certo, contudo, que suas obras tiveram uma grande influência sobre a cultura dos últimos decênios. O que mudou depois de Lacan, também, no modo de "fazer" cultura? 
     - O que mudou? Se remonto aos anos 50, na época em que o estudante que eu era lia as obras de Lévi-Strauss e os primeiros textos de Lacan, parece-me que a novidade era a seguinte: nós descobríamos que a filosofia e as ciências humanas viviam sobre uma concepção muito tradicional do sujeito humano, e que não bastava dizer, ora com uns, que o sujeito era radicalmente livre e, ora com outros, que o sujeito era determinado por condições sociais. Nós descobríamos que era preciso procurar libertar tudo o que se esconde por trás do uso aparentemente simples do pronome "eu" (je). O sujeito: uma coisa complexa, frágil, de que é tão difícil falar, e sem a qual não podemos falar.
     - Lacan teve muitos adversários. Ele foi acusado de hermetismo e de "terrorismo intelectual.". O que o senhor pensa sobre essas acusações? 
     - Penso que o hermetismo de Lacan é devido ao fato de ele querer que a leitura de seus textos não fosse simplesmente uma "tomada de consciência" de suas idéias. Ele queria que o leitor se descobrisse, ele próprio, como sujeito de desejo, através dessa leitura. Lacan queria que a obscuridade de seus Escritos fosse a própria complexidade do sujeito, e que o trabalho necessário para compreendê-lo fosse um trabalho a ser realizado sobre si mesmo. Quanto ao "terrorismo", observarei apenas uma coisa: Lacan não exercia nenhum poder institucional. Os que o escutavam queriam exatamente escutá-lo. Ele não aterrorizava senão aqueles que tinham medo. A influência que exercemos não pode nunca ser um poder que impomos.

(In. Foucault. Ditos e escritos - vol.1 - Problematização do sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise.Rio de Janeiro: Forense Universitária,2006, 329-330p.).



segunda-feira, 23 de abril de 2018

Lacan & Foucault - Liberdade de expressão

"Além das conjunções de ordens estritamente teórica e institucional, na passagem dos anos 60 para os anos 70, Lacan e Foucault se aproximaram também no plano político. A questão que os reuniu foi a primeira mobilização de jornalistas franceses na defesa da liberdade de expressão.
Assim, o que estaria em pauta foi o que ficou conhecido como o "affaire Jaubert". Jaubert era o nome do jornalista da revista semanal Le Nouvel Observateur que foi agredido pela polícia parisiense no contexto de uma manifestação dos Atilheses, em Paris, na primavera de 1971. Com efeito, Jaubert foi violentamente agredido por policiais quando prestava os primeiros socorros a uma pessoa ferida na manifestação. O Ministério do Interior, além disso, indiciou então Jaubert, por ter supostamente agredido e insultado policiais, na tentativa de justificar o injustificável, qual seja, a agressão realizada pelos policiais contra o jornalista.
Em reação a isso foi então organizada uma comissão para investigar o que tinha de fato tinha acontecido, pois se desconfiava fortemente da versão da polícia. Esta comissão era formada por advogados, intelectuais e jornalistas e diferentes órgãos da imprensa, com colaborações políticas e editoriais diferentes, como Le Fígaro, Le Monde e Le Nouvel Observateur. O que estava em pauta efetivamente era a defesa ostensiva da liberdade de expressão pela comissão que se organizou para avaliar os acontecimentos, que o preocupante episódio em questão evidenciava.
Uma grande conferência de imprensa foi então realizada em 21 de junho de 1971, com a presença de Claude Mauriac, Denis Langlois, o advogado da Liga dos Direitos do Homem, assim como de Gilles Deleuze e de Michel Foucault. A primeira reunião deste grupo se realizara há poucas semanas, no consultório de Lacan, contando assim com a participação deste.
A consequência disso foi a constituição de outra comissão de inquérito que comprovou que a polícia mentira sobre o que se passara efetivamente, para tentar justificar de fato o injustificável, qual seja, a agressão ao jornalista como vingança da polícia para quem ajudasse os manifestantes a se defenderem da violência policial. Enfim, a liberdade de expressão e de manifestação foi então mantida, não obstante as posições não-republicanas da polícia e do Ministério do Interior em relação ao acontecimento.


(In. Lacan e Foucault -conjunções, disjunções e impasses. Joel Birman e Christian Hoffmann. São Paulo: Instituto Langage, 2017, pp. 130-131).

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Correspondência entre Lou Andreas-Salomé e Rainer Maria Rilke para download


"Esta coisa mais real, a qual você escreveu que gostaria de se agarrar quando suas angústias interiores o esvaziam de qualquer sensação e parecem entregá-lo ao desconhecido - essa única coisa real, você já a tem em si, escondida como uma semente, e é por isso que você não se deu conta ainda. Você a possui porque se tornou um arpento de terra onde tudo o que cai, mesmo os menores fragmentos, os pores fracassos, torpeza e detritos, deve sofrer uma elaboração unificadora que constituirá o elemento dessa semente. Portanto, pouco importa que isso se apresente primeiro como um monte de sujeira derramado sobre sua alma: tudo se transformará em terra, em você. Você nunca esteve tão perto da saúde quanto hoje" ( Lou Andreas Salomé para Rilke em 1/8/1903).


Link para download da correspondência entre Lou & Rilke:

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Fotos de Lou com Rilke:


1897

1900

1897

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domingo, 28 de janeiro de 2018

Lou Andreas Salomé fala de Nietzsche

Lou Andreas Salomé, Nietzsche e Paul Ree em 1882.

"Sem dúvida, um primeiro encontro com Nietzsche nada oferecia de revelador ao observador superficial. Esse homem de estatura mediana, de traços calmos e cabelos castanhos penteados para trás, vestido de maneira modesta apesar de extremamente bem cuidada, podia facilmente passar despercebido. Os traços finos e maravilhosamente expressivos de sua boca eram quase cobertos por completo pelo emaranhado de um espesso bigode pendente. Ele tinha um riso suave, uma maneira de falar sem barulho, um andar prudente e circunspecto que o fazia curvar ligeiramente os ombros. Era difícil imaginar essa silhueta no meio de uma multidão: ela tinha a marca que distingue aqueles que vivem sós e em movimento. O olhar, em contrapartida, era irresistivelmente atraído pelas mãos de Nietzsche, incomparavelmente belas e finas, que ele mesmo acreditava traírem seu gênio. (...) Seus olhos também o revelavam. Apesar de quase cegos, não tinham o olhar vacilante e involuntariamente perscrutador que caracteriza vários míopes. Antes pareciam guardiões protegendo seus próprios tesouros, defendendo segredos mudos sobre os quais nenhum olhar indesejável poderia chegar. Sua visão defeituosa conferia a seus traços um charme mágico sem igual; pois, ao invés de refletir as sensações fugidias provocadas elo turbilhão dos acontecimentos externos, eles reproduziam apenas o que vinha do interior dele mesmo. Seu olhar estava voltado para dentro, mas ao mesmo tempo - para além dos objetos familiares - ele parecia explorar o longínquo - ou, mais exatamente, explorar o que estava dentro dele como se estivesse longe".

Lou Andreas Salomé, Nietzsche e Paul Ree em 1882.

(In. Dorian Astor. Lou Andreas Salomé. Porto Alegre: LPM, 2015, p. 65).

A diferença invisível - Mademoiselle Caroline & Julie Dachez


"Você que é um dedo do meio à imposição da "normalidade".
Não há nada a curar em vocês, nada a mudar. Seu papel não é se encaixar em um molde, mas sim ajudar os outros - todos os outros - a sair dos moldes em que estão presos. Você não está aqui para seguir um caminho predefinido, mas, ao contrário, para seguir o seu próprio caminho e convidar aqueles ao seu redor a pensar fora da caixa.
Ao abraçar sua verdadeira identidade, aceitando sua singularidade, você se torna um exemplo a ser seguido. Você tem o poder de romper essa camisa de força normativa que sufoca a todos nós e nos impede de viver juntos com respeito e tolerância.
Sua diferença não é parte do problema, mas da solução.
É um remédio para a nossa sociedade, doente de normalidade".

(HQ - trecho da dedicatória - São Paulo: Nemo, 2017).


Vídeo sobre a HQ: 



domingo, 29 de outubro de 2017

A vida com Lacan - Catherine Millot

"Houve um tempo em que eu tinha a sensação de ter aprendido o ser de Lacan em sua essência. De ter uma espécie de intuição de sua relação com o mundo, um acesso misterioso ao lugar íntimo de onde emanava sua ligação com os seres e as coisas, e também com ele próprio. Era como se eu houvesse deslizado para dentro dele.
Essa sensação de apreender sua essência ia de par com a impressão de estar compreendida, no sentido de estar integralmente incluída nessa sua compreensão, cuja extensão me ultrapassava. Seu espírito - sua amplitude, sua profundidade -, seu espírito mental, englobava o meu como uma esfera que contivesse outra menor (...). Não ter nada a dissimular, nenhum mistério a preservar, dava-me uma total liberdade com ele, mas não só. Uma parte essencial de meu ser lhe era entregue, ele tinha sua guarda, eu me sentia aliviada. Vivi a seu lado anos a fio nessa leveza.
Um dia, contudo, ele manipulando as rodelas de barbante que ele tanto gostava de modelar e, de repente, me disse: "está vendo, isso é você". Eu era - como qualquer um, não importa quem - aquele real que escapava ao seu controle, que tanto mal lhe fazia. Vi-me bruscamente compelida a levar em conta o que em mim lhe resistia como só o real resiste.
Quando digo "seu ser", o que entendo por isso? Sua particularidade, sua singularidade, o que nele era irredutível, seu peso de real. Quando hoje tento apreender novamente esse ser, é seu poder de concentração que retorna, sua concentração quase permanente em um objeto de pensamento que ele nunca abandonava. Com o tempo, ele se simplificara ao extremo. De certa maneira, não era nada além disso, essa concentração no estado puro. Ela se confundia com seu desejo, o qual se tornava tangível.
Eu a encontrava em sua maneira de andar, projetado para a rente, a cabeça primeiro, como se carregado por seu peso, recuperando o equilíbrio no passo seguinte. Nessa própria instabilidade, contudo, via-se determinação, ele não se afastava uma polegada de seu caminho, ia até o fim, sempre em linha reta, indiferente aos obstáculos, que ele parecia ignorar e que, de todo modo, não lhe inspiravam qualquer consideração. Gostava de lembrar que era do signo de Capricórnio" (p.5-7).
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"O real é aquilo contra o qual nada podemos, com o que nos chocamos, é o intransponível, o impossível de contornar, de negociar. Para ele, tanto na vida como numa análise, tratava-se de alcança-lo, esse indestrutível núcleo d realidade, e tudo o que o isola, o mantém à distância ou máscara pertence à esfera da frivolidade" - (p.12).
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"Lacan tinha grande apreço pela Roma católica. A tal ponto que fomos visitar um cardeal amigo seu, com quem deixara um exemplar dos Escritos para que entregasse ao papa" - (p.17).
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"Nos primeiros tempos, Lacan, implicante, me dizia que as mulheres assemelhavam-se sempre a algum flagelo. Eu e meu gênero éramos uma inundação. In petto, eu ruminava que ele não erguia nenhum dique contra o pacífico dessa invasão" - (p.26).
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"O real é quando "os pinos não entram nos buraquinhos", ele gostava de dizer. Lacam exprimia frequentemente essa cólera no cotidiano, que fornecia diversos ensejos para al. Então ele nada tinha de teatral e geralmente não se dirigia a ninguém a não ser, digamos, à má vontade do real. Esperar fazia-o quicar de impaciência, fosse num sinal vermelho ou numa passagem de nível. Se demorassem a servi-lo num restaurante, ele reagia imediatamente soltando um grito estridente ou um suspiro semelhante a um grito. E se voltasse ao local, a presteza estava garantida" - (p.35-36).
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"Quando não fazia um monte de perguntas a respeito de um assunto que o intrigava, preferia ficar calado. Saindo de seu silêncio, intervinha com uma tirada brusca, não raro desconcertante: "Quando um homem não é mais um homem, sua mulher o esmaga", lançara subitamente. "Esmaga mesmo?", eu repeti, pasma. Sollers, por sua vez, entendera uma coisa completamente diferente: "Quando uma mulher não é mas uma mulher, ela esmaga seu homem" - (p.42).
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"Um dia, quando eu lhe falava do que vivenciava com o desconforto de ser mulher, ele me disse: "Você não é a única, isso não a torna menos sozinha". Ele não deixava sua plateia se iludir com uma esperança sobre o futuro terapêutico de seus doentes. Na discussão que se seguia à apresentação, depois que o doente saía, não hesitava em afirmar a respeito de um ou outro que ele estava "fodido". Às vezes, aliás, dizia-o ao próprio paciente, o que espantosamente tinha o efeito de aliviá-lo" - (p. 52).

(A vida com Lacan  - Rio de Janeiro: Zahar, 2017).

Sobre o livro:

Catherine Millot no Brasil:

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Não me fira - Caio Fernando Abreu

"Minha cara incendiava. Ele apagou o cigarro dentro do pequeno capacete militar invertido, sustentado por três espingardas cruzadas. E me olhou de frente, pela primeira vez, firme, sobrancelhas agudas sobre o nariz, fundo, um falcão atento à presa, forte. A mosca levantou vôo da ponta do meu nariz.
Não me fira, pensei com força, tenho dezessete anos, quase dezoito, gosto de desenhar, meu quarto tem um Anjo da Guarda com a moldura quebrada, a janela dá para um jasmineiro, no verão eu fico tonto, meu sargento, me dá como um nojo doce, a noite inteira, todas as noites, todo o verão, vezenquando saio nu na janela com uma coisa que não entendo direito acontecendo pelas minhas veias, depois abro As mil e uma noites e tento ler, meu sargento, sois um bom dervixe, habituado a uma vida tranquila, distante dos cuidados do mundo, na manhã seguinte minha mãe diz que tenho olheiras, e bate na porta quando vou ao banheiro e repete, repete que aquele disco da Nara Leão é muito chato, que eu devia parar de desenhar tanto, porque já tenho dezessete, quase dezoito, e nenhuma vergonha na cara, meu sargento, nenhum amigo, só resta tontura seca de estar começando a viver, um monte de coisas que eu não entendo, todas as manhãs, meu sargento, para todo o sempre, amém.
Feito cometas, faíscas cruzaram na frente dos meus olhos. Tive medo de cair. Mas as folhas mais altas dos cinamomos começaram a se mover. O sol quase caindo no Guaíba. E não sei se pelo olhar dele, se pelo nariz livre da mosca, se pela minha história, pela brisa vinda do rio ou puro cansaço, parei de odiá-lo naquele exato momento. Como quem muda uma estação de rádio. Esta, sentia impreciso, sem interferências.
Pois, seu Hermes, então tu é o tal que tem pé chato, taquicardia e pressão baixa? O médico me disse. Arrimo de família, também?
Sim, meu sargento, menti apressado, aquele médico amigo de meu pai. Uma suspeita cruzou minha cabeça, e se ele descobrisse? Mas tive certeza: ele já sabia. O tempo todo. Desde o começo. Movimentei os ombros, mais leves. Olhei fundo no fundo frio do olho dele.
Trabalha?
Sim, meu sargento...menti outra vez.
Onde?
Num escritório, meu sargento.
Estuda?
Sim, meu sargento.
O quê?
Pré-vestibular, meu sargento.
E vai fazer o quê? Engenharia, direito, medicina?
Não, meu sargento.
Odontologia? Agronomia? Veterinária?
Filosofia, meu sargento.
Uma corrente elétrica percorreu os outros. Esperei que atacasse novamente. Ou risse. Tornou a me examinar lento. Respeito, aquilo, ou pena? O olhar se deteve, abaixo do meu umbigo. Acendeu outro cigarro, Continental sem filtro, eu podia ver, com o isqueiro em forma de bala.
Espiou pela janela. Devia ter visto o céu avermelhado sobre o rio, o laranja do céu, o quase roxo das nuvens amontoadas no horizonte das ilhas. Voltou os olhos para mim. Pupilas tão contraídas que o verde parecia vidro liso, fácil de quebrar.
Pois, seu filósofo, o senhor está dispensado de servir à pátria.
Seu certificado fica pronto daqui a três meses. Pode se vestir. Olhou em volta, o alemão, o crioulo, os outros machos. E vocês, seus analfabetos, deviam era criar vergonha nessa cara porca e se mirar no exemplo aí do moço. Como se não bastasse ser arrimo de família, um dia ainda vai sair filosofando por aí, enquanto vocês vão continuar pastando que nem gado até a morte.
Caminhei para a porta, tão vitorioso que meu passo era uma folha vadia, dançando na brisa da tardezinha. Abriram caminho para que eu parasse. Lerdos, vencidos. Antes de entrar na outra sala, ouvi o rebenque estalando conta a bota negra.
Sem-tido! Estão pensando que isso aqui é o "cu-da-mãe-joana"?"

(Trecho do conto Sargento Garcia, publicado originalmente no livro Morangos Mofados. In. Melhores Contos de Caio Fernando Abreu. São Paulo: Global, 2006).

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Dias de abandono - Elena Ferrante (trechos)

"Mostrar-se resistente, sê-lo. Eu tinha que dar um bom exemplo do que eu era. Somente impondo-me esta obrigação poderia me salvar".
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"...estava lá no meio da densidade das árvores sem nome, a mim me parecia mais uma aquarela do que a realidade. Estavam atrás de mim e aos meus lados. Álamos? Cedros? Acácias? Rubiáceas? Nomes ao acaso, o que eu sabia? Ignorava tudo, até o nome das árvores debaixo da minha casa. Se tivesse de escrever, não teria conseguido. Os troncos apareciam-me todos sob uma lupa poderosa. Não havia dist~^anciã entre mim e eles e, ao contrário, a regra reza que para contar é necessário, antes de qualquer coisa, tomar a distância, um metro, um calendário, calcular quanto tempo passou, quando espaço se colocou entre nós e os fatos, as emoções a serem narradas. Eu, ao contrário, sentia que tudo estava sempre em mim, respiração contra respiração. Mesmo naquela ocasião me parecia, por um momento, não estar vestida com minha camisola mas com um longo manto no qual estava pintada a vegetação do parque Valentino, as avenidas, a ponte Principessa Isabella, o rio, o prédio onde morava, até o cão pastor. Por isso estava tão pesada e inchada. Levantei-me choramingando de vergonha e de dor de barriga, a bexiga cheia, eu não aguentava mais".
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"Eu não dava tapas, nunca o havia feito, no máximo eu ameaçava. Mas talvez para as crianças não houvesse diferença alguma entre a ameaça e o que realmente se faz. Eu, pelo menos - agora me lembrava -, quando pequena era assim, talvez até já depois de grande. O que poderia me acontecer caso eu violasse uma proibição de minha mãe acontecia de qualquer jeito, independentemente da violação. As palavras realizavam de imediato o futuro e queimava-me ainda hoje a ferida da punição quando eu nem mesmo me lembrava da culpa do que eu poderia ou gostaria de ter feito. Lembrei-me de uma frase recorrente da minha mãe: "Pare ou te corto as mãos", dizia quando tocava os seus materiais de costureira. E aquelas suas palavras para mim eram como tesouras internas, longas e com um metal bem afiado, que saíam pela boca, mandíbulas de lâmina que se fechavam sobre os pulsos deixando tocos costurados com agulha e linha do carretel.
"Eu nunca te dei tapa nenhum", disse.
"Não é verdade".
"No máximo eu disse que daria. Tem uma boa diferença".
Não há diferença alguma, pensei, e me assustei ouvindo esse pensamento na minha mente".
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"...eu não sabia encontrar uma resposta para a interrogação, qualquer resposta possível parecia-me absurda. Eu estava perdida no onde estou, no que faço. Estava muda ao lado do por quê".
*
"Preciso, para escrever bem, para ir até o âmago de cada pergunta, de um lugar menor, mais seguro. Apagar o supérfluo. Restringir o campo. Escrever a verdade é falar do fundo do ventre materno. Virar a página, Olga, começar de novo".
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"O que aconteceu com você naquela noite?"
"Tive uma reação de excesso que rompeu a superfície das coisas".
"E depois?"
"Caí".
"E onde você parou?"
"Em lugar nenhum. Não havia profundidade, não havia precipício. Não havia nada".

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Na minha pele - Lázaro Ramos (trechos).

"Lázaro, certamente você não aprendeu que na Revolução Farroupilha lanceiros negros lutaram com a promessa de liberdade. Nem que as primeiras greves no Brasil não foram promovidas pelos italianos, mas por escravos em Ilhéus, no fim do século XVIII. Eles negociaram com os senhores as condições de volta ao trabalho, inclusive o direito de cantar e dançar. André Rebouças, o maior engenheiro do Império, era negro. Não precisamos fazer nenhuma inversão de supremacia: apenas mostrar que o Brasil foi feito através das intervenções de diversos povos".
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"Satã [Madame Satã] era negro, pobre, gay, e seu corpo era sua única arma. E ele fez uso dessa arma, seja na capoeira, na sexualidade ou como artista nos palcos. Entender esse personagem como um homem que conseguiu se reinventar a despeito do pouco acesso a dinheiro e status social me fez perceber como é possível - e necessário - contar boas histórias invertendo o ponto de vista comum: Satã não é tratado como um coadjuvante de sua própria vida, ele é o senhor do seu destino".
*
"Seu lugar é aquele onde você sonha estar"(...). Eu sempre repetia essa frase em conversas de bar, nas peças que escrevia, em artigos e palestras, sem saber por que não conseguia me livrar dessa sentença chiclete. Hoje assumo: precisava propagar essa ideia de que o sonho é a meta. Há que se desejar mais e pensar que é possível. Ela é o oposto de outra frase muito perigosa e frequentemente dita por aí: "Vá procurar o seu lugar". Como se houvesse um lugar predeterminado que alguém fosse obrigado a ocupar porque não há como escapar dele. Eu sentia que não éramos estimulados a quebrar barreiras nem a enfrentar obstáculos. Por isso repetia a minha frase".
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"A grande escritora Conceição Evaristo me ensinou algo que nunca vou esquecer. Ela diz que temos visto nos últimos tempos pessoas negras de estratos populares chegarem às universidades, a postos de comando no mercado de trabalho etc. São histórias exemplares, mas também perigosas. Devemos fazer uma leitura de que somos exceção. Quando nos prendemos muito a esse elogio da história pessoal ("ela veio da favela e conseguiu"), corremos o risco de dizer que o outro não conseguiu porque não quis, e isso não é verdade. A exceção simplesmente confirma a regra".
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"Mas não falemos da lei [10.630], falemos de algo que ouvi da professora Vanda Machado, egbomi do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, numa das muitas conversas que tivemos ao longo do caminho. É uma lenda africana sobre origem adaptada por Vanda e Carlos Petrovich, seu marido, e que descreve melhor os caminhos da lei do que qualquer explicação minha. Chama-se "O espelho da verdade". Me disse Vanda, no quadro de encerramento de uma das temporadas do Espelho [programa do Canal Brasil], que no princípio havia uma única verdade no mundo (em todo fim de programa dessa temporada, Vanda fazia um quadro em que falava como o candomblé é de uma sabedoria enorme - e aplicável - sobre nossas questões existenciais e mesmo sociais).
Entre o Orum (0 mundo espiritual) e o Aiyê (mundo material) existia um espelho, e tudo o que aparecia no Orum materializava-se no Aiyê. Ou seja, o mundo espiritual refletia exatamente o mundo mateiral e não havia a menor dúvida de que cada acontecimento constituía uma verdade absoluta. Portanto, todo cuidado era pouco para não quebrar o espelho da verdade, que ficava justamente entre os dois mundos.
Mas vivia no Aiyê uma jovem chamada Mahura. A jovem trabalhava dia e noite ajudando sua mãe a pilar inhames. Um dia, desavisadamente, ao perder o controle do movimento ritmado da mão do pilão, bateu forte no espelho, que se espatifou, lançando seus cacos pelo mundo. Assustada, Mahura foi se desculpar com Olorum. Qual não foi a sua surpresa quando o encontrou tranquilamente deitado à sombra do Iroko, uma árvore considerada sagrada para os africanos. Olorum ouviu as desculpas da jovem atentamente e, em seguida, declarou que daquele dia em diante não existiria mais uma única verdade. "Quem achar um pedacinho do espelho estará encontrando apenas uma parte da verdade, porque o espelho reproduz apenas a imagem do lugar em que se encontra".
Esses somos nós, reflexos de um espelho quebrado que, como um mosaico, apresenta um pedacinho de nossa história. Se visto com carinho, cada pedaço pode ter sua beleza, valores e complexidades reconhecidos. Para isso têm surgido novas vozes, novos portadores do microfone, prontos para ampliar suas falas, experiências e histórias. Ouçam as vozes desse Brasil plural e nosso".
*
"A propósito, uma das entrevistas de que mais gostei de fazer no Espelho foi com Ana Maria Gonçalves. Me lembro dela também dizendo que, durante o processo da abolição, o que as elites quiseram fazer foi um branqueamento da sociedade brasileira. Não havia interesse em integrar os negros, o interesse era que eles desaparecessem. Notem que, quando falamos de um europeu, sempre especificamos se ele é inglês, português, francês; quando falamos de um africano, falamos um africano, e não de onde ele é. A África é um continente, sabiam? Cada região possui características próprias (...). Um jeito que o Brasil arrumou para não valorizar esse passado das nações africanas foi tratar o passado europeu como a História (com H maiúsculo) e o passado africano como etnografia".
*
"A publicidade não virá como elemento de vanguarda que vai mudar a imagem do negro perante a mídia. Ela vai mudar à medida que a sociedade for mudando sua resistência em relação ao negro".

sábado, 5 de agosto de 2017

A desumanização - Valter Hugo Mãe (trecho)

"Acordei e pensei que não fazia sentido nenhum que a morte doesse.
Sente-se como uma dor no estômago mais a fundo. Como se o estômago estivesse a descer e a querer sair pernas abaixo. O meu pai perguntou: a morte. E eu respondi: não. As flores das mulheres. O sangue apodrece e cheira mais forte. Corre dentro como um bocado de fogo raivoso, porque me arde. Expliquei assim. Mas o meu pai não conversou mais nada. Teve vergonha. A minha mãe disse que era um pequeno vulcão. São as flores das mulheres. São de sangue. São de lume. Magoam. Todos me falavam de passar a ser mulher e sobre o que isso significava de perigo e condenação. Ser mulher, explicavam, era como ter o trabalho todo do que respeita à humanidade. Que os homens era para tarefas avulsas, umas participações quase nenhumas. Como se fossem traves de madeira que se usavam momentaneamente para segurar um teto que ameaçasse cair. Se não valessem pela força, nunca valeriam por motivo algum, porque de coração sempre estavam mal feitos. Eram gulosos, pouco definidos, mudavam com facilidade os desejos, não conheciam a lealdade passional, concebiam apenas engenharias e mediam até os amores pelo lado prático da beleza, gostavam sempre de quem lhes parecesse dar mais jeito, como se procurassem empregadas ao invés de esposas, como se precisassem de precaver os seus próprios defeitos mais do que as virtudes livres das mulheres.
(...).
Se um rapaz entrasse dentro de mim, deixava-me filhos. Sairiam filhos de mim. Como se um saco onde estivessem guardados. Pasmava à espreita das minhas pernas nuas. O cimo das pernas aberto como se estivesse estragado. Podre. Tinha apodrecido igual à minha irmã morta. Pingava e magoava. Cheirava mal. O sangue estava esquisito. Eu disse: a menstruação é o sangue que entristece".
*
(Valter Hugo Mãe. A desumanização. São Paulo: Cosac Naify, 2014, p.19-20).

Vídeo do lançamento do livro em Lisboa em 2014:
 

segunda-feira, 31 de julho de 2017

A Odisséia de Penélope - Margaret Atwood (trechos)

"Agora que morri, sei de tudo. Era isso que eu esperava que acontecesse, mas, como muitos dos meus desejos, deixou de se realizar. Sei apenas alguns fatos dispersos que antes ignorava. Desnecessário dizer, trata-se de um preço alto demais a pagar pela satisfação da curiosidade.
Já que estou morta - já que atingi o estado desossado, deslabiado, despeitado -, aprendi coisas que preferia desconhecer, como ocorre quando alguém escuta debaixo da janela ou abre cartas alheias. Você gostaria mesmo de ler a mente? Pense bem.
Aqui todos chegam com um saco igual para guardar os ventos, mas todos os sacos estão cheios de palavras - palavras que a pessoa disse, palavras que ouviu, palavras que foram ditas a seu respeito. Alguns sacos são muito pequenos; outros, grandes; o meu tem tamanho razoável, mas boa parte das palavras se refere a meu distinto marido. Ele me fez de tola, alguns dizem. Era sua especialidade: fazer os outros de tolos. Ele se safava de todas, outra de suas especialidades: safar-se.
Ele sempre foi muito convincente. Muita gente acreditava que sua versão dos acontecimentos era verdadeira, com, talvez mais, talvez menos, alguns assassinatos, algumas lindas mulheres seduzidas e vagos monstros de um olho só. Até eu acreditava nele, de vez em quando. Sabia que era ardiloso e mentia, mas não imaginava que fosse capaz de me enganar e de me contar mentiras. Não fui fiel? Não esperei, e esperei, e esperei, apesar da tentação - quase compulsão - de desistir? E o que me restou, quando a versão oficial se consolidou? Ser uma lenda edificante. Um chicote para fustigar outras mulheres. Por que não podem todas ser tão circunspectas, confiáveis e sofredoras como eu? Era essa a abordagem que adotavam os cantores, os rapsodos. Não sigam meu exemplo, sinto vontade de gritar nos ouvidos de vocês - sim, nos de vocês! Mas, quando tento gritar, pareço uma coruja.
Claro, eu desconfiava da ligeireza dele, da esperteza, da astúcia, da - como dizer? - da sua falta de escrúpulos, mas fingia não ver nada. Ficava de boca fechada; ou, se a abrisse, só elogiava. Não refutava, não fazia perguntas inconvenientes, não me aprofundava. Queria finais felizes naquela época, e os finais felizes são alcançados quando mantemos certas portas trancadas e dormimos na hora da confusão.
Contudo, quando os principais eventos passaram e o caso se tornou menos legendário, me dei conta de quantas pessoas riam de mim pelas costas - elas zombavam, contavam anedotas a meu respeito, piadas sujas e limpas; me transformaram numa história, ou em várias histórias, embora não fossem do tipo que eu gostaria de ouvir sobre minha pessoa. O que uma mulher pode fazer quando mexericos escandalosos percorrem o mundo? Se ela se defende, soa culpada. Por isso esperei mais um pouco.
Agora que todos os outros perderam o fôlego, é a minha vez de fazer o relato. Devo isso a mim mesma .
(...)
Antigamente, as pessoas ririam se eu bancasse o menestrel - não há nada mais ridículo do que uma aristocrata que se mete a artista -, mas a esta altura não me importo mais com a opinião pública. A opinião de quem está aqui: das sombras, dos ecos. Portanto, vou tecer minha própria narrativa.
A dificuldade é não ter boca pela qual falar. Não consigo que me compreendam, não as pessoas do mundo de vocês, do mundo dos corpos, das línguas e dos dedos; na maior parte do tempo não tenho ouvintes, não do seu lado do rio. Entre vocês, quem consegue captar um murmúrio perdido, um grito solto, facilmente confunde minhas palavras com o som da brisa dos juncos, morcegos ao crepúsculo, pesadelos.
Mas sempre fui determinada. Paciente, diziam.
Gosto de ver o final da história".
"Os deuses nunca desprezavam a chance de arranjar encrenca. Na verdade, adoravam. A visão dos olhos de um ou uma mortal a fritar nas órbitas graças a uma overdose de sexo com os deuses provocava gargalhadas terríveis. Havia certa maldade infantil nos deuses. Posso dizer isso porque não possuo mais um corpo, superei esse tipo de sofrimento, e além disso os deuses não estão escutando. No mundo de hoje as pessoas não recebem mais visitas dos deuses como antigamente, a não ser que tomem drogas".
"Esse era um dos seus grandes segredos para convencer os outros - ele conseguia fazer uma pessoa acreditar que os dois enfrentavam um obstáculo comum e que precisavam unir forças para superá-lo. Conseguia fazer qualquer um colaborar em sua pequena conspiração inventada. Ninguém era capaz de fazer isso melhor do que ele: aí, as histórias não mentem. E ele tinha mesmo uma voz maravilhosa, profunda e sonora".
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sexta-feira, 28 de abril de 2017

Com amor - carta de Celso Afonso Gay de Castro pra Ana Cavalli


"Ana meu amor....
Ás vezes a convivência consigo mesmo se torna difícil. São aquelas horas perdidas na noite, em que uma vaga tristeza, um cansaço sem sono, uma grande saudade e uns tragos a mais ajudam a aprofundar uma depressão que já é quase estrutural.
Normalmente trato de dormir, sair, ler, tomar outros tragos, tirar o peso de cima.
Hoje é uma dessas noites. Depois de muito tempo pensando na vida, parece que a única coisa que devo fazer é escrever-te; afinal, pensar na vida hoje significa em grande medida pensar em ti.
A opção pela revolução é um elemento determinante nas coisas que faço, de uma maneira estrutural. Não que eu me considere um supermilitante, e que todos os meus atos de manhã a noite sejam reflexo da minha consciência bolchevique. O fato é que há muito tempo minha preparação principal e minha ocupação quase total se referem a um projeto revolucionário.
Também não quero dizer que todo o meu tempo eu dedico ao trabalho político, já que boa parte desse tempo eu dedico a nada. Depois de quase dois anos em Paris, consumindo-me no trabalho, na gráfica e em reuniões e mais reuniões de todos os tipos com produtividade política absolutamente insatisfatória, eu estava buscando uma alternativa.
Mudar de vida, de tipo de vida como única maneira de me inserir num projeto politico realmente sério e viável".
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(In. Filme Diário de uma busca - de Flávia Castro).

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