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"Agora, querida Nástienka, agora pareço o espírito do rei Salomão, que ficou mil anos numa caixa lacrada com sete selos, os quais foram finalmente retirados. Agora, querida Nástienka, quando nos encontramos novamente depois de tão longa separação - porque eu a conheço há muito tempo, Nástienka, porque há muito tempo procurava alguém, e isto é um sinal de que procurava justamente a senhorita e que estávamos fadados a nos encontrar neste momento -, agora em minha cabeça abriram-se milhares de válvulas e tenho de me derramar feito um rio de palavras, senão ficarei sufocado" - (p.33).
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"...- Agora, quando estou sentado ao seu lado e falo consigo, tenho medo de pensar no futuro, pois no fututo está novamente a solidão, novamente esta vidaa inútil e cheirando a mofo; e com o quê vou sonhar se, desperto, fui tão feliz ao seu lado? Oh, bendita seja a senhorita, minha querida, por não ter me rejeitado logo na primeira vez. porque agora posso dizer que vivi ao menos duas noites em minha vida!
- Oh, não, não! - gritou Nástienka, e pequenas lágrimas brilharam em seus olhos. - Não será mais assim, não vamos nos separar assim! O que são duas noites?
- Oh, Nástienka, Nástienka! A senhorita sabe que me reconciliou por muito tempo comigo mesmo? Sabe que agora já não penso tão mal de mim mesmo como pensava em certos momentos? Sabe que, talvez, eu já não vá mais sofrer por ter cometido um crime e um pecado, pois uma vida assim é um crime e um pecado? E não pense que exagerei algo; pela graça de Deus, não pense isto, Nástienka, porque às vezes sou tomado por momentos de tanta tristeza, e tanta tristeza...Porque nesses momentos já começa a me parecer que nunca serei capaz de começar a viver uma vida autêntica; porque já me parecia que eu tinha perdido todo o tato, toda noção do autêntico, do real; porque, enfim, eu maldizia a mim mesmo; porque depois de minhas noites fantásticas eu logo sou tomado por terríveis momentos de desilusão! Entretanto, sente-se que ao redor gira e ressoa uma multidão de pessoas no turbilhão da vida; sente-se, vê-se como as pessoas vivem: vivem de verdade; vê-se que a vida para elas não é proibida, que a vida delas não se dissipa como um sonho, como uma visão; que a vida delas se renova eternamente, é eternamente jovem, e que nenhuma de suas horas se assemelha a outra, ao passo que é triste e monótona até a vulgaridade a fantasia tímida, escrava de uma sombra, de uma idéia, escrava da primeira nuvem que cobrir de repente o sol e oprimir de tristeza o autêntico coração peterbursgense, que tanto aprecia o seu sol - e que fantasia pode haver na tristeza! Sente-se que ela, essa fantasia inesgotável, finalmente se cansa, enfraquece numa tensão eterna, pois você amadurece, abandona seus antigos ideiais: estes se desfazem em pó, em pedaços; se não há outra vida, então é preciso construí-la a partir desses pedaços. E no entanto, é outra coisa que a alma pede e quer! E em vão o sonhador remexe, como que nas cinzas, em seus velhos sonhos, procurando nessas cinzas ao menos uma centelha para soprá-la e, através do fogo renovador, aquecer o coração esfriado e ressuscitar novamente tudo o que antes era tão belo, que tocava a alama, que fazia o sangue fervilhar, que arrancava lágrimas dos olhos e que iludia com tanta perfeição! Sabe a que ponto cheguei, Nástienka? Sabe que já estou obrigado a celebrar o aniver´sario de minhas sensações, o aniversário daquilo que na realidade nunca aconteceu - porque esse aniversário é celebrado em memória daqueles mesmos sonhos tolos e incorpóreos -, e devo fazer isto porque estes sonhos tolos não existem, pois não há nada para substituí-los, e os sonhos devem ser substituídos! (...) E me pergunto: onde é que estão os meus sonhos? E balançando a cabeça, digo: como os anos voam depressa! E novamente pergunto: mas o que você fez dos seus anos? Onde sepultou a sua melhor época? Você viveu ou não? Veja, digo a mim mesmo, veja que o mundo está ficando frio. Ainda passarão anos, e atrás deles virá a solidão sombria, virá a velhice trêmula com uma bengala, e atrás dela a tristeza e a melancolia (...)" - (p.43-4).
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"- Vamos, Nástienka, vamos! - gritei de entusiasmo. - E se eu a amasse já há vinte anos, ainda assim não a amaria mais do que agora!" (p.45).
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"Meu Deus! Um momento inteiro de júbilo! Não será isto o bastante para uma vida inteira?" - (p.82).
(Noites brancas. São Paulo: Editora 34, 2005).