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domingo, 7 de abril de 2013

O sonho de Irma e a pulsão invocante - Alain Didier-Weill

"Lacan supõe, naquele que vai se tornar analista, um desejo X ligado ao instinto de morte, do qual dá uma ilustração marcante no Seminário Le mois dans la théorie de Freud et dans la technique de la psychanalyse, ao comentar o sonho de Irma: Lacan interpreta a produção do significante trimetilamina, como a produção de um significante no plano do qual acontecem o que ele chama uma "liberação do sujeito" e uma "saída da culpa inconsciente".
Eis a maneira como Lacan comenta a produção de trimetilamina: "Tal como um oráculo, a fórmula não dá resposta alguma a qualquer coisa que seja". Mas o modo pelo qual ela se enuncia, seu caráter enigmático, é que é a resposta do sentido do sonho. Pode-se decalcar a formulação islâmica: "Não há outro Deus senão Deus: não há outra palavra, outra solução para o vosso problema, senão a palavra".
Uma outra voz toma a palavra...Poderíamos chamar de Nemo este sujeito fora do sujeito que designa toda a estrutura do sonho...Não há outra palavra do sonho senão a própria natureza do simbólico...Esta palavra não quer dizer senão o que é, uma palavra...
Seria uma palavra delirante se o sujeito sozinho tentasse achar aí, à maneira de um ocultista, a designação secreta do ponto onde está, na verdade, a solução do mistério do sujeito e do mundo. Mas ele não está sozinho.
É dentro dessa possibilidade de dirigir-se a - pela qual o sujeito sai da solidão - que Freud, a nosso ver, entra na dimensão de uma invocação que estrutura não a demanda, mas a pulsão invocante.
A diferença entre ambas está em que a demanda visa um Outro que deve estar imediatamente presente, ao passo que a invocação dorige-se a um Outro que não está presente senão como por-vir. A pulsão invocante é assim transferência no tempo.
O paradoxo temporal ligado à produção do significante trimetilamina é o seguinte: de um lado, por intermédio deste significante, o sujeito se dirige a um Outro que ainda não está presente, mas cujo advento é esperado em virtude de uma certa transferência no tempo; por outro lado, nesta invocação para o futuro, o Sujeito toma nota, no presente, do fato de que ele está fazendo uma aposta com a qual afirma que acredita "nisso".
Acreditar nisso, e não acreditar "nele" ou "nela", é a definição mais sucinta que podemos dar ao amor".
(In: Nota Azul - Freud, Lacan e a Arte. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1997, p.15-6).

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