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domingo, 26 de janeiro de 2020

Canção de Ninar - Leila Slimani


"A solidão agia como uma droga da qual ela não sabia se queria abdicar. Louise vagava pela rua, desconcertada, os olhos tão abertos que doíam. Na solidão, ela começou a olhar para as pessoas. A vê-las de verdade. A existência dos outros se tornou palpável, vibrante, mais real que nunca. Observava nos menores detalhes os gestos dos casais sentados nos terraços. Os olhares oblíquos dos velhotes abandonados. A afetação dos estudantes que fingiam estudar, sentados no encosto de um banco. Nas praças, na saída de uma estação do metrô, reconhecia o estranho desfile dos que estão perdendo a paciência. Esperava com eles a chegada de alguém. A cada dia ela reencontrava os companheiros de loucura, falantes solitários, malucos, mendigos.
A cidade, nessa época, estava cheia de loucos".
(São Paulo: Planeta: 2018, p. 86).

Um comentário:

  1. Enfim a demência mergulhara no limbo do real, regurgitando todos aqueles velhos axiomas de que pra viver em sociedade faz se necessário agarrar se a essencial loucura e ao mesmo desprender se dela. Trecho "Mansão sem face" by Anderson Rodrigues

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