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quarta-feira, 22 de julho de 2020

Meu ano de descanso e relaxamento - Otessa Moshfegh

"Não consigo reconhecer nada que justifique minha decisão de hibernar. No começo, eu só queria uns tranquilizantes para abafar meus pensamentos e juízos, já que o bombardeio constante tornava difícil a tarefa de não odiar a tudo e a todos. Achava que a vida seria mais tolerável se meu cérebro demorasse um pouco mais para condenar o mundo ao meu redor " - (p.22).
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"Eu não era insone, era infeliz. Me lamuriar para a dra. Tuttle teve um efeito estranhamente libertador" - (p. 25).
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"Nada parecia real de verdade. Dormindo, acordada, tudo colidia numa viagem cinzenta e monótona de avião por entre as nuvens. Eu não conversava mentalmente comigo mesma. Não tinha muito o que dizer. Foi assim que soube que o sono estava fazendo efeito: estava ficando cada vez menos apegada à vida. Se continuasse, pensei, desapareceria por completo, depois reapareceria sob alguma outra forma. Essa era a minha esperança. Esse era o meu sonho" - (p. 76).
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"O mundo da arte acabou se mostrando parecido com o mercado de ações: um reflexo de tendências políticas e convicções do capitalismo movido pela ganância, por fofoca  cocaína. Eu bem que podia ter trabalhado em Wall Street, teria dado na mesma. Especulação e opiniões guiavam não só o mercado como também os produtos e, infelizmente, os valores, que dependiam não da inefável qualidade da arte enquanto ritual humano sagrado - um valor que de qualquer forma é impossível medir -, mas do que um bando de idiotas ricos achava que "elevaria" seus portfólios e inspiraria inveja e, delirantes como eram, lhes traria respeito. Eu ficava bem feliz de ter tirado rodo aquele lixo da minha cabeça" - (p.154).
(In. Meu ano de descanso e relaxamento. Otessa Moshfegh. São Paulo: Todavia, 2019).

Mais sobre o livro em:
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