"Desta vez ficou quieto, esticando os lábios para a frente, e somente quando lhe contei aquela história das fogueiras nos restolhos levantou a cabeça. "Claro que fazem bem", disse. "Despertam a terra".
"Mas Nuto", eu disse, "nem Cinto acredita nisso!".
No entanto, disse ele, não sabia o que era, se o calor ou a chama ou que os humores despertavam, o fato era que todas as culturas em cuja orla se acendia a fogueira davam uma colheita mais suculenta, mais viva.
"Essa é nova", disse eu. "Então você também acredita na lua?"
"Na lua", disse Nuto, "não há como não acreditar. Experimente cortar um pinheiro na lua cheia, os vermes o comem inteiro. Um tonel você tem de lavar quando a lua é jovem. Até os enxertos, se não se fizerem nos primeiros dias da lua, não pegam".
Então eu lhe disse que no mundo ouvira muitas histórias, mas as mais bobas eram essas. Era inútil ele criticar tanto o governo e as conversas dos padres, se depois acreditava nessas superstições, como os velhos do tempo de sua avó. E foi então que Nuto calmamente me disse que superstição é somente aquilo que faz mal e se alguém utilizasse a lua e as fogueiras para roubar os camponeses e mantê-los na ignorância, então seria ele o ignorante e deveria ser fuzilado na praça. Mas antes de falar eu devia voltar a ser camponês. Um velho como Valino podia não saber mais nada, mas a terra ele conhecia bem.
(...)
Sou um bobo, eu dizia, faz vinte anos que estou longe e esses lugares esperam por mim. Lembrei que desilusão fora caminhar pela primeira vez pelas ruas de Gênova - eu caminhava no meio e procurava um pouco de capim. O porto, este sim, estava lá, e também os rostos das moças, as lojas e os bancos, mas as canas, o cheiro da lenha, um pedaço da vinha, onde estavam? Eu também conhecia a história da lua e das fogueiras. Só que, dera-me conta, eu não sabia mais que a sabia".
(In. A lua e as fogueiras. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2002, pp.60-61).
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