"- Então, por que é que você quer ser professora?
- Pra encher o saco das crianças - respondeu Zazie. - As crianças que tiverem a minha idade daqui a dez anos, vinte anos, cinquenta anos, cem anos, mil anos, sempre vai ter crianças para serem aporrinhadas.
(...)
- Sabia - disse Gabriel, com calma -, segundo os jornais, não é de jeito nenhum nessa direção que caminha a educação moderna. É totalmente o contrário. Vamos na direção da suavidade, da compreensão, da gentileza. Não é isso, Marceline, o que dizem no jornal?
- É - respondeu Marceline, suavemente. - Mas violentaram você na escola, Zazie?
- Queria ver eles tentarem.
- Além disso - disse Gabriel -, daqui a vinte anos não vai mais ter professoras: vão ser trocadas pelo cinema, pela tevê, pelos eletrônicos, essas coisas. Também estava escrito no jornal, outro dia. Não é, Marceline?
- É - respondeu Marceline, suavemente.
Zazie vislumbrou aquele futuro por um instante.
- Então - declarou - vou ser astronauta.
- Isso aí - disse Gabriel, aprovando. - Isso aí, é preciso viver de acordo om os tempos.
- É - continuou Zazie -, vou ser astronauta para encher o saco dos marcianos".
(In. Zazie no metrô. Raymond Queneau. São Paulo: Cosacnaify, 2009, pp. 20-21).
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