Ao assistir "Enrolados", o mais recente longa de animação dos estúdios Disney (releitura do clássico conto Rapunzel). torna-se possível articular diversos conceitos chave da Psicanálise, o que ratifica a estreita proximidade deste saber com o cinema, tal como em outras modalidades de arte.
Freud já havia abordado sobre a verdade do sujeito que a Arte antevém - o que mantém a Psicanálise em seu encalço; Lacan reafirmou e ampliou tal abordagem.
Atenhamo-nos, entrementes, a um breve esboço da história: tendo sido enclausurada no alto de uma torre, Rapunzel está prestes a completar dezoito anos sem nunca ter tido contato com o ambiente externo; a razão do aprisionamento se encontra nos poderes mágicos do cabelo da garota, que quando despertados por específica canção, são capazes de curar qualquer doença, cicatrizar feridas e, o que mais interessa à bruxa má que se faz passar por mãe, retrocede o efeito do tempo sobre o corpo, preservando a juventude.
Argumentando que o mundo é repleto de perigos e que por conta de sua fragilidade Rapunzel jamais sobreviveria fora da torre, a "mãe" usufrui da prisão da filha para manter-se jovem, impedindo que a garota viva plenamente, e a esta só resta entregar-se à leitura, pintura, bordados... enfim, todo tipo de atividade pelas quais tenta em vão preencher o vazio.
A sorte de Rapunzel muda quando por acaso Eugene, para fugir de ladrões, escala a torre em que ela vive; passado o estranhamento do primeiro contato os dois estabelecerão um acordo: em troca de uma jóia preciosa que está no poder de Rapunzel Eugene a levará para explorar o mundo. Durante a travessia dá-se então um encontro simbólico, marcado pela diferença que reafirma a falta ao invés de tamponá-la; o rapaz, graças a Rapunzel, legitima-se como homem, e é claro, faz dela Mulher.
A constituição do sujeito, mãe devoradora, atravessamento do complexo de Édipo feminino, posição feminina e masculina, a significação do falo, o encontro amoroso (faltoso)....é um pouco do muito que se pode contextualizar da Psicanálise em Enrolados, que também evoca questões mitológicas que não caberiam em breves linhas. Um longa que, diga-se de passagem, está longe de entreter unicamente às crianças...
"- Não pude deixar de notar, você parece estar em guerra consigo mesma.
- Sério?
- É compreensível. Mãe protetora, uma viagem proibida, é algo complicado. Mas deixe-me acalmar sua consciência. Isto faz parte de crescer. Um pouco de rebelião e aventura. É bom. Até saudável.
- Você acha?
- Eu sei. Está se estressando à toa. Será que a sua mãe merece isso? Não. Será que partirá e esmagará a alma dela? Claro. Mas você tem de fazê-lo.
- Partir o coração?´
- É possível.
- Esmagar a alma dela?
- Como uma uva.
- Ela ficaria de coração partido, você tem toda razão.
- Provavelmente. Tudo bem...ou não..."
(trecho do filme)
Trailer do filme (legendado):
Canção original do filme:
http://www.youtube.com/watch?v=7_WMV1o9TkE
http://www.youtube.com/watch?v=7_WMV1o9TkE
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