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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O autor como produtor - Walter Benjamin

"Nem sempre houve romances no passado, e eles não precisarão existir sempre, o mesmo ocorrendo com as tragédias e as grandes epopéias. Nem sempre as formas do comentário, da tradução e mesmo da chamada falsificação tiveram um caráter literário marginal: eles ocuparam um lugar importante na Arábia e na China, não somente nos textos filosóficos como literários. Nem sempre a retórica foi uma forma insignificante: ela imprimiu seu selo em grandes províncias da literatura antiga. Lembro tudo isso para transmitir-vos a idéia de que estamos no centro de um grande processo de fusão  de formas literárias..." - (p.123-4).
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"A tendência política, por mais revolucionária que pareça, está condenada a funcionar de modo contra-revolucionário enquanto o escritor permanecer solidário com o proletariado somente ao nível de suas convicções, e não na qualidade de produtor" - (p.126);
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"...o lugar do intelectual na luta de classes só pode ser determinado, ou escolhido, em função de sua posição no processo produtivo" - (p.127).
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"Sabemos, e isso foi abundantemente demonstrado nos últimos dez anos, na Alemnanha, que o aparelho burguês pode assimilar uma surpreendente quantidade de temas revolucionários, e até de propagá-los, sem colocar seriamente em risco sua própria existência e a existência das classes que controlam. Isso continuará sendo verdade enquanto este aparelho for abastecido por escritores rotineiros, ainda que socialistas. Defino o escritor rotineiro como o homem que renuncia por princípio a modificar o aparelho produtivo a fim de romper sua ligação com a classe dominante, em benefício do socialismo. Afirmo ainda que uma parcela substancial da literatura de esquerda não exerceu outra função social que a de extrair da situação política novos efeitos, para entreter o público. Isso me traz ao tema da "Nova Objetividade". Ela lançou a moda da reportagem. A questão é a seguinte: a quem serviu esta técnica?" - (p.128).
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"...a proletarização do intelectual quase nunca faz dele um proletário. Por que? Porque a classe burguesa pôs a sua disposição, sob a forma da educação, um meio de produção que o torna solidário com esta classe e, mais ainda, que torna esta classe solidária com ele devido ao privilégio educacional (...). No escritor, a traição consiste num comportamento que o transforma de fornecedor do aparelho de produção intelectual em engenheiro que vê sua tarefa na adaptação desse aparelho aos fins da revolução proletária (...). A inteligência que fala em nome do fascismo deve desaparecer (...). Porque a luta revolucionária não se trava entre o capitalismo e a inteligência, mas entre o capitalismo e o proletariado" - (p.135-6).

Conferência pronunciada no Instituto para o Estudo do fascismo, em 27/4/1934.
(Walter Benjamin – Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 120-36). 

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