O homem adormecido, de Salvador Dali
O estruturalismo foi o ponto de vista epistemológico, cujo apogeu se deu na França nos anos 60, que nortearia as atividades de pesquisa nos campos das ciências humanas e sociais (...). A atividade estruturalista parte da observação de que nada significa por si mesmo, que todo conhecimento num dado sistema é determinado por todos os outros conceitos no mesmo sistema e que só será inequívoco depois de integrado em sua estrutura particular. Além disso, toda significação resulta de uma relação: os fatos são parte de um todo e só em relação a ele podem ser apreciados (Longo, 2006, p.38).
Saussure |
Saussure tinha o objetivo de construir uma linguística da língua e não da fala. Era o momento de a fala (ou discurso), cujo senhor é o indivíduo, ser questionada. Emergem as questões relativas ao sujeito que produz o discurso, tornando-se impossível separar a subjetividade do discurso. É justamente a época em que se postula o descentramento do sujeito.
Sob essa perspectiva, o estruturalismo recebe a acolhida da geração que tinha como mestres, entre outros, Marx, Sartre e Freud.
Marx |
Com Marx, essa geração aprendeu a conceber o pensamento como um acontecimento que retira da realidade histórica seus motivos e sua força, ou seja, pensar é fornecer estatuto teórico à análise dos movimentos reais da existência para esclarecê-la e transformá-la.
Sartre |
Com Sartre, a geração aprendeu que não há mais essência humana preexistente que unifique o curso dos acontecimentos, ou seja, não há mais subjetividade primeira que seja o lugar da verdade, uma vez que a realidade não é o objeto da consciência, mas o lugar de sua emergência e de sua transformação. O existencialismo ateu de Sartre vai justamente promover o homem a articulador de sua própria existência, visto que a essência humana não lhe é dada: ele que a construa segundo os ditames de sua consciência livre.
Freud |
Com Freud, emerge a ferída narcísica: a revelação da existência do inconsciente faz cair por terra o sujeito centrado na consciência. Ao contrário, o eu está submetido à força inconsciente que determina o modo de existência da expécie humana. A questão inconsciente refere-se à Outra cena, heterogênea à consciência por sua própria estrutura. O homem se dá conta de que não é capaz de intervir ativamente em seu destino e de que está imerso em sentidosescorregadios. Em outras palavras, está destinado a se abrigar na linguagem (Longo, 2006, p.39-40).
O etnólogo belga Claude Levi-Strauss inaugura a abordagem estruturalistsa na análise antropológica a partir de sua leitura de Saussure, utilizando as categorias e dicotomias que Saussure usa para erigir sua antropologia estrutural (...). Levi-Strauss efetua o descentramento do homem branco, europeu, civilizado, descendente de gregos excepecionais, e faz isso ao desvelar pontos de identificação desse homem com povos "exóticos", com culturas "primitivas", cujos rituais muito se assemelhavam aos dos "civilizados". É o começo de um novo modo de olhar a cultura (...).
Seria também o começo de um novo olhar para a psicanálise por meio dos estudos de Jacques Lacan, em franca ascensão nos anos 60. Em uma volta à letra de Freud, dada a sua insistência sobre a importância da linguagem, Lacan pode fazer uso dos linguistas estruturalistas de sua época e de outras passadas, e afirmar categoricamente que o sujeito é dependente da linguagem. De saída, esse fato dilui a questão da "verdade", visto que a linguagem é criação humana, ficção.
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