Neste breve relato escrito por Marco A. Coutinho Jorge & Nadiá P. Ferreira, é possível ter contato com a vida de Sigmund Freud - desde o seu nascimento até a morte no exílio -, o contexto histórico e social do surgimento e desenvolvimento da Psicanálise, além dos tópicos essenciais deste saber que marcou a trajetória da humanidade, dentre eles: "os sonhos: via régia para o inconsciente", "a peste e o sexual (onde a prática psicanalítica é distinguida da clínica médica, fala-se de fantasia inconsciente e pulsão), "a clínica da histeria" (onde Freud trata de mulheres com questões sexuais importantes, começando com a hipnose, passando pelo método catártico e culminando na prática da associação livre), e o desenvolvimento da sexualidade (conferindo-se um amplo destaque ao Complexo de Édipo, desde suas raízes mitológicas até as distinções entre meninos e meninas na vivência do complexo).
Ao final, é apresentada uma breve cronologia da vida de Freud e são indicadas leituras para o aprofundamento do tema; apesar de ser um livro de bolso com 61 páginas tratando de um tema tão amplo, não apresenta linguagem rebuscada, e os conceitos não são apresentados de forma superficial, de modo a prejudicar o entendimento da teoria. Excelente leitura para introdução ou revisão de conhecimentos.
A seguir, destaco alguns trechos:
Breve introdução
A vida de Sigmund Freud foi um evento que marcou a história da humanidade. Ele descobriu que o homem é regido por forças que escapam à consciência, algo de que o ser humano tanto se gaba para diferenciar seu gênero de todas as espécies animais e que, no entanto, é apenas a ponta de um imenso iceberg chamado inconsciente.
Assim como Copérnico demonstrou que a Terra não é o centro do universo e Darwin retirou o homem do centro da criação, Freud descentrou a razão: o inconsciente é a Outra Cena que revela que o ser humano não possui domínio de si mesmo. a existência de um pensamento inconsciente, operando continuamente, redimensiona de modo radical o cogito cartesiano: como sustentar que "penso, logo sou", se há algo que pensa em mim e, mais do que isso, trama à minha revelia? Logo, eu não penso, e sim "sou pensado"...
O inconsciente apresenta uma realidade sexual, e a sexualidade, que desde Aristóteles pertencia ao campo da bestialidade, se tornou a partir de Freud não só a pedra angular da constituição da subjetividade, mas também da cultura. Todas as criações humanas, sem exceção - os esportes, as artes, as ciências etc. -, estão ancoradas num desejo sexual indestrutível que constitui o núcleo do inconsciente (Coutinho e Ferreira, 2010, p.7-8).
O nome Freud tem a mesma raiz da palavra freude, que em alemão significa prazer, regozijo, e se origina de Freid, que é o nome da bisavó materna do pai de Freud (...). Em 6 de maio de 1856, nasceu o primogênito, aquele que iria inventar a psicanálise, recebendo o nome de Schlomo Sigismund. O primeiro nome, Scholomo, dadoem homenagem ao avô paterno, nunca foi usado por Freud. o segundo, Sigismund, foi alterado por ele, que retirou duas letras, passando a assinar Sigmund Freud. Sem dúvida, Freud foi um filho amado pelo pai e o predileto de sua mãe, que o chamou durante toda a vida de "meu Sigi de ouro" (Jorge e Ferreira, 2010, p.13-4).
A clínica psicanalítica desde sempre - ao contrário da clínica médica, que se baseava essencialmente no olhar - retira toda a sua eficácia da escuta de uma fala, na qual a verdade aparece em seu estado nascente. o saber em jogo na experiência da análise é um saber que se caracteriza por estar intimamente associado à verdade do sujeito, não é um saber acadêmico nem doutrinário, mas um saber singular. Esta revelação exige que o analista não só esteja sempre estudando a teoria da psicanálise, mas também que a coloque em suspenso, quando está escutando o seu paciente. Freud sugere que o analista deve tomar cada novo paciente como se fosse o primeiro e escutá-lo em sua radical singularidade. O que isto significa? A singularidade remete para a reconstituição, aqui e agora, da história de um sujeito. Freud recomenda ao psicanalista uma atenção flutuante, isto é, ele não deve a priori privilegiar nada em sua escuta (Jorge e Ferreira, 2010, p.20).
Jacques Lacan, em sua releitura de Freud, sublinhou extensamente essa posição do analista e afirmou, no final da vida, que era de seus analisandos que aprendia tudo, que aprendia o que era a psicanálise (...). A atenção flutuante é o correlato, no analista, da regra fundamental da associação livre, segundo a qual o analisando é convidado a falar tudo o que lhe passa na cabeça, sem exercer o rivo da censura. Lacan interpretou a atenção flutuante como uma ignorância douta, expressão que por seu caráter paradoxal revela a dificuldade inerente à posição do analista no tratamento. Trata-se de uma ignorância que não exclui o saber na teoria, mas que destaca a posição de escuta de um Outro saber, o saber inconsciente, que tem como característica principal a ruptura com toda forma de saber consciente. Em uma análise, tanto o analista, em sua escuta, quanto o analisando, em sua fala, são surpreendidos com a revelação da verdade inerente aosaber inconsciente (Jorge e Ferreira, 2010, p.20-1).
(...) De Cromwell [Oliver Cromwell], Freud citou certa vez uma passagem que considerava como uma verdadeira bússola para a condução das análises de seus pacientes: nós nunca vamos tão longe do que quando não sabemos aonde vamos (Jorge e Ferreira, 2010, p.37).
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