Pesquisar este blog

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Coletânia de referências de Lacan sobre linguagem e poesia

Foi Lacan quem propôs o "inconsciente estruturado como uma linguagem" no seu retorno à Freud, quando os fundamentos da Psicanálise estavam sendo desvirtuados por psicoterapias superficiais que não correspondiam ao complexo e intenso trabalho de um  processo de análise.
Lacan sabia que a verdade do sujeito era da ordem do inconsciente; este, que não pertencia  nem a um, nem ao outro, mas que se estruturava no "entre-dois" proporcionado pela linguagem; lá onde se fazia o furo, nos interstícios do discurso, mas metáforas e metonímias das formações do inconsciente, lá estaria o desejo do homem.
Para aprofundar seus estudos acerca da Psicanálise, Lacan recorreu a grandes expoentes da linguística e semiótica, tais como Saussurre e Levi-Strauss; mas também voltou o olhar para apogeu das criações humanas: as Artes.
Lacan apreciava a boa música, era colecionador de belíssimas pinturas e frequentava o teatro, mas sua predileção era pela Literatura, que por se utilizar tão habilmente das metáforas e metonímias da linguagem  antevia a postulação do inconsciente. Fiel ao que Freud afirmara, de que na matéria com a qual a Psicanálise lidava, o artista sempre a precedia, Lacan pontuou no texto Lituraterra que sem lançar mão de qualquer conhecimento pré-concebido, era pela verdade do que os textos literários veiculavam que esperava.  
Curiosamente, a paixão de Lacan por línguas e pela Literatura foi bem anterior ao seu envolvimento com as questões psicanalíticas, e mesmo à sua formação em Medicina; é no colégio que ele terá destaque nos seus estudos de latim e alemão, e que estreitará o contato com grandes escritores, entre os quais James Joyce, que era um dos seus favoritos.
O legado de Lacan é marcado por referências a clássicas histórias e poesias da Literatura; só para se ter uma idéia, um de seus primeiros seminários é articulado em torno de um conto de Allan-Poe, "A carta roubada".
Na tese de doutorado que Maritza Magalhães Garcia apresentou ao departamento de Psicologia da PUC do Rio de Janeiro em março de 2010, entitulada "Da metáfora ao literal: Jacques Lacan com Arnaldo Antunes", há um extenso anexo que demonstra as referências de Lacan à linguagem, literatura, poesia. Abaixo colocarei alguns trechos; o anexo completo, que vale a pena ser lido, está disponível no link:

"O significante é o material audivel, que nem por isso quer dizer o som".
"A palavra, desde que se instaura, se desloca na dimensão da verdade. Só que, a palavra não sabe que é ela que faz a verdade (...) é em relação a verdade que se situa tudo o que é emitido". (In: Os escritos técnicos de Freud).
*
"A análise, como alerta Lacan, "não é da ordem da inspiração poética. Cabe ao psicanalista buscar mais o sentido do que o inefável. O que quer dizer o sentido?", pergunta Lacan. "O sentido é que o ser humano não é o senhor desta linguagem primordial e primitiva. Ele está jogado aí, ele está preso em sua engrenagem"". (In: O eu na teoria de Freud e na técnica da Psicanálise).
*
"(...) basta escutar a poesia, o que sem dúvida aconteceu com F. de Saussurre, para que nela se faça ouvir uma polifonia e para que todo discurso revele alinhar-se nas diferentes pautas de uma partitura". (In: A instância da letra ou a razão desde Freud).
  *
""A metáfora não é uma injeção de sentido - como se isso fosse possível, como se os sentidos estivessem em algum lugar, fosse onde fosse, num reservatório". Se a palavra pode trazer um sentido novo, é mais na qualidade de significante que por portar uma significação". (In: As formações do inconsciente).

Nenhum comentário:

Postar um comentário